Buscar
Agência de jornalismo investigativo
Reportagem

Andrew Jennings: O futebol brasileiro não deveria ir ao congresso de Blatter

Para jornalista britânico, a Fifa está morta e enterrada. Agora é hora dos torcedores tomarem conta do futebol

Reportagem
4 de junho de 2015
15:37
Este artigo tem mais de 8 ano

jenningsBlatter teria que sair de uma maneira ou de outra. Mas o que ele fez, anunciando que renunciaria, foi como se o bicheiro Castor de Andrade, quando preso no Rio de Janeiro em 1994, dissesse à polícia: “Certo, eu vou estar muito ocupado nos próximos 4 ou 5 meses, mas posso marcar uma reunião com vocês e meus advogados depois disso”. A resposta obviamente seria: “Entre no carro senhor Andrade”.

A ideia de que os mafiosos de Blatter em Zurique estão organizando a sucessão é de tirar o fôlego.

Basta dar uma olhada na coletiva de imprensa de Blatter e na declaração de  Domenico Scala: “fizemos várias reformas e vamos fazer mais algumas”. Eles não fizeram reforma nenhuma! É uma mentira. E Scala é um dos seus capangas intelectuais pagos escalados para organizar um congresso. Bem. Apenas duas palavrinhas e uma delas é “off” em inglês. Você sabe qual é a primeira!

Eles não podem organizar um congresso, o mundo do futebol deveria organizá-lo, não Blatter e seus escroques. Acho que os torcedores brasileiros deveriam dizer “O futebol brasileiro não deve ir ao congresso final de Blatter”. Vocês não deveriam se envolver com esse absurdo.

Acho que Luis Figo é um cara legal, um grande jogador de futebol, mas essa fase já passou. Não é hora de escolher candidatos, temos que ter uma outra estrutura, em primeiro lugar, com transparência e liberdade de informação. Essa eleição vai ser completamente roubada, assim como a outra foi roubada.

Como em muitos outros países, vocês, brasileiros, foram traídos pelos seus líderes, os Marins e Teixeiras. Mas no Brasil há milhões de pessoas honestas que também são torcedores de futebol. Sabemos que não precisamos desse mar de lama no Rio. Não precisamos deles. As torcidas podem eleger seus próprios líderes e dizer: não vamos participar disso. E se a CBF quiser ir para o congresso, que vá, mas não os deixem entrar no país quando voltarem. Eles que fiquem na Suíça.

Que espetáculo maravilhoso!

A Fifa deveria ser completamente desmantelada. Ela fede, está morta e enterrada. Foi o que as últimas eleições mostraram. Não havia eleitores reais, eles foram pagos para votar. Vieram de países inexpressivos, que recebem milhões de dólares por ano de Sepp Blatter que vieram dos ingressos da Copa do Mundo que pertencia aos brasileiros. Claro que eles o amam! Ele cuida deles, faz com que enriqueçam e, em troca, eles dão seu voto. Por isso não! Queremos torcedores de todos os lugares votando.

Os “torcedores” – eu lembro dessa palavra apesar do meu péssimo português – deveriam organizar uma conferência em cada um dos estados, e mandar delegados para que democraticamente discutissem que tipo de Fifa queremos. Apenas mudem o nome, deixem Fifa pra lá. Vamos chamar de “Sindicato do Futebol”, que é mais simpático. Ou, Sindicato do Futebol Limpo.

Apenas imaginem – deixando de lado o 7×1 que não vamos comentar – uma das maiores nações futebolísticas do mundo, vocês, sentando-se com os alemães, outra grande nação do futebol, e mandem os torcedores, não esses picaretas, Teixeira, Marin, Del Nero. Digam: “Não queremos vocês aqui. Vamos reunir nossos torcedores. Não tentem nos impedir”.

Porque vocês deveriam jogar esse jogo? Agora eles nem são mais o tirano que os ameaça com o punho: “Façam como mando ou eu te arrebento a cara”. Agora eles são tipo: “com licença, por favor, vocês poderiam nos apoiar”. Acho que se 50 torcedores de futebol chegassem ao portão em Zurique veriam os ratos correndo para os fundos.

Em todo mundo há organizações de torcedores: na Europa, na Escócia, na Inglaterra. Eles são gente decente. Eles deveriam fazer planos juntos. E pedir para ONU apoiá-los para fazer uma conferência em outro lugar! Então os torcedores assumiriam o controle e dizer: “Todos esses caras bem pagos de Zurique podem ficar por lá”. Porque nós não queremos ir para aí. Não queremos que vocês administrem nada. Vocês nos traíram e não queremos papo com vocês. Vamos simplesmente enxotá-los.

Esses acontecimentos recentes deveriam ter como consequência o fortalecimento dos torcedores para que eles passassem a desempenhar um papel importante. Agora vocês têm muito mais condições de acabar com esses jogos de resultados previamente combinados. Porque os torcedores não puderam fazer nada contra isso. Agora os torcedores podem dizer: “Deixa pra lá, já sabemos quem vocês são”. Isso dá poder aos trocedores. Por que não? Essa porra de jogo é dos torcedores, não é o jogo do Sepp Blatter, nem do Del Nero.

Vocês não vão deixar esses bandidos tomarem conta das investigações a menos que vocês sejam o Castor de Andrade de 20 anos atrás no Rio de Janeiro. Sabemos que os gangsters de todos os países compram a polícia. Mas não dessa vez, queridos. Não dessa vez.

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes