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Agência de jornalismo investigativo
Entrevista

Combater impeachment não é dar cheque em branco a Dilma, diz MTST

Para Josué Rocha, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, presidente tem uma última chance para se reaproximar dos movimentos populares e trabalhadores

Entrevista
15 de dezembro de 2015
20:00
Este artigo tem mais de 8 ano

Mesmo críticos ao governo da presidente Dilma Rousseff, os movimentos sociais organizam para esta quarta-feira (16) um dia nacional de mobilização para defender a continuidade de seu mandato. Na pauta, a saída do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e a suspensão do ajuste econômico. Em São Paulo, a manifestação está marcada para as 17 horas na Avenida Paulista, que no domingo foi palco de um ato pró-impeachment reunindo 40,3 mil pessoas, segundo levantamento do Datafolha.

Josué Rocha, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), afirma que o ato contra o impeachment não significa um “cheque em branco” para Dilma, mas uma última chance para ela se reaproximar dos movimentos populares e dos trabalhadores. O dia nacional de mobilização conta também com entidades e movimentos como MST, UNE, Levante Popular da Juventude, CUT, CTB e Intersindical, entre outras.

Vocês organizam para esta quarta-feira uma manifestação contra o impeachment que deve chegar a diversos estados.

Na verdade são três eixos: contra o impeachment, contra o ajuste fiscal e fora Cunha. São os três eixos que fecham este dia nacional de mobilização.

Não ao impeachment e fora Cunha são eixos que combinam. Mas como defender o “não ao impeachment” e o fim do ajuste fiscal?

A gente entende que o governo federal, de fato, é o maior responsável pelo ajuste econômico. Mas esse processo do impeachment está sendo uma chantagem do Eduardo Cunha e o governo (em caso de impeachment) seria do Michel Temer. E ele já apresentou sua pauta, que é o projeto “Uma ponte para o futuro”, que representa um ajuste ainda maior, inclusive com corte na saúde, na educação, com novas privatizações.

Ainda existe uma margem de negociação dos movimentos sociais com a presidente Dilma Rousseff para garantir direitos?

Estamos dispostos a ficar contra o impeachment pelo retrocesso que ele representa. Mas de maneira nenhuma os movimentos estão dispostos a dar um cheque em branco para a presidente. A gente quer que ela assuma o compromisso de fato de diálogo com os movimentos sociais, com garantia de direitos e com medidas na economia, que está ameaçada principalmente pelo ministro da Fazenda (Joaquim Levy).

No segundo turno os movimentos sociais se uniram em torno da reeleição da presidente Dilma. E, logo no começo do ano, vocês concluíram que ela sinalizou que não cumpriria o combinado. O que garante que o governo dela, daqui para adiante, poderia ser melhor do que um eventual governo do vice-presidente, Michel Temer?

O que garante é exatamente o documento “Uma ponte para o futuro”, que coloca como proposta privatizações no Sistema Único de Saúde (SUS), privatizações na educação, aprofundar a privatização inclusive dos bancos públicos, que são medidas que consideramos temerosas. Isso garante para a gente que seria um governo pior. De fato, a presidente, após o segundo turno, acabou assumindo o programa do candidato derrotado, Aécio Neves (PSDB), o que, com certeza, foi o pior motivo de a popularidade dela cair. Agora, esta é uma última chance para a presidente retomar a relação com o povo. Ela tem de dar agora sinais claros de que vai retomar uma política de garantia dos direitos sociais.

O movimento pró-impeachment na rua deu uma esvaziada, o que veio acontecendo desde agosto e resultou em manifestações menores no domingo. A que vocês atribuem isso?

Cada vez está ficando mais claro o tom golpista que tem motivado o impeachment. A população sabe que o que está por trás é uma chantagem do presidente da Câmara. Sabe que Eduardo Cunha não tem, neste momento, nenhuma moral para pedir o impeachment da presidente, com tantas acusações de crimes em suas costas. Ele tem uma desaprovação gigante, o que já está influenciando estas manifestações. Apesar de insatisfeita com o governo, a população já acha que o impeachment pode não ser a saída para este momento.

A Polícia Federal fez nesta terça-feira (15) operações de busca e apreensão em escritórios e residências do presidente da Câmara, de deputados e ministros do PMDB. Isso enfraquece o processo de impeachment ou até o fortalece porque pode unir o partido contra o governo?

A gente quer de qualquer maneira que o Eduardo Cunha caia. Não tem condições de continuar como presidente da Câmara fazendo manobras como ele tem feito. É inquestionável. Por outro lado, esse fortalecimento da oposição ao Cunha é uma maneira de limpá-lo do processo de impeachment. Todo mundo já percebeu que Eduardo Cunha puxando o impeachment enfraquece esse processo. Então agora acabou não sendo interessante por nenhum dos setores que Cunha se mantenha como presidente. É isso que tem motivado, nos últimos dias, uma ofensiva maior contra ele.

Para além do impeachment, há uma ascensão dos setores conservadores da Câmara. Como vocês veem esse crescimento conservador?

É muito preocupante. É o Congresso mais conservador depois do período da ditadura. A batalha nem tem sido para conseguir novos direitos mas para impedir que a gente perca direitos já conquistados. Essa questão da redução da maioridade penal, da lei antiterrorismo, do projeto de lei com restrições ao aborto em caso de estupro são alguns dos exemplos de direitos sociais que estão em risco e que estamos lutando para preservar. É um reflexo dessa Câmara conservadora capitaneada pelo Cunha, que representa a união dos setores empresarias com a bancada da Bíblia. A própria composição geral do Congresso é mais conservadora. Se compararmos a última eleição com as eleições anteriores, temos a diminuição dos representantes dos trabalhadores e o aumento do número de representantes tanto da bancada ruralista como dos setores empresariais.

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