A cidade de Bastos, no interior de São Paulo, é conhecida como a “Capital do Ovo”. São pouco mais de 20 mil habitantes (humanos) e 11,3 milhões de galinhas, espalhadas por aproximadamente 60 granjas. Bastos produz cerca de 6% dos ovos do Brasil.
A alcunha de “terra do ovo” é motivo de orgulho entre a população e, por toda a cidade, existem referências ao alimento, que vão da “Praça do Ovo”, ponto turístico de Bastos, à decoração personalizada de alguns postes de luz, ladrilhos de calçada e placas com o nome de ruas.
O brasileiro nunca comeu tantos ovos como agora. O consumo do alimento no país mais do que dobrou nos últimos 15 anos, saindo da marca anual de 120 ovos per capita em 2007, para 257 unidades em 2021, segundo números da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Hoje, o Brasil produz cerca de 54,9 bilhões de ovos por ano. São 1.700 ovos por segundo. Tamanha produtividade, no entanto, não ocorre sem que os granjeiros tenham que lidar com seus próprios desafios — que vão do alto preço da ração das galinhas às mudanças climáticas.
Uma galinha pode morrer de calor se o local em que ela estiver ultrapassar 40ºC. O mandamento faz parte da rotina dos produtores de ovos do município de Bastos.
No calor, a produtividade tende a baixar. As galinhas acabam gastando mais energia para equilibrar a temperatura corporal com o ambiente e, consequentemente, botam menos ovos. Assim, lidar com as altas temperaturas exige preparação por parte dos granjeiros, que costumam utilizar ventiladores e nebulizadores para manter o ambiente menos insalubre para as galinhas.
Em alguns supermercados do país já é possível encontrar há alguns anos caixas de ovos com o selo “galinhas felizes” ou “galinhas livres”. Trata-se de um tipo alternativo de sistema de produção, em que as aves ficam soltas no galpão. Por propor uma criação fora das gaiolas, esse modelo é conhecido como “cage free”.
Mesmo que o principal motor por trás da evolução do sistema “cage free” seja o bem-estar animal, esse tipo de galpão também seria mais vantajoso do ponto de vista climático.
O movimento é visto com apreensão pelos granjeiros, caso a transição dos modelos seja imposta por meio de lei. “O que vai acontecer é o que aconteceu na Europa: quando houve essa migração de sistema, houve aumento do preço do ovo. É muito mais caro produzir galinhas livres de gaiola”, afirma Cristina Nagano, do Sindicato Rural de Bastos.
O consumo, contudo, parece longe de diminuir, o que tende a aumentar ainda mais o preço do ovo, que já acumula altas nos últimos meses por causa dos elevados custos de produção. O preço médio de uma caixa com 30 dúzias de ovos brancos, quantidade-padrão vendida pelos produtores de Bastos, por exemplo, saiu de R$ 105 em março de 2020, início da pandemia, para R$ 144 em julho de 2022. Alta de mais de 37%.
Já temos o problema da onda de calor que exige cuidados por parte dos produtores e, consequentemente, mais custos. Da mesma forma, mudar o sistema de produção para fora das gaiolas também contribui para o aumento do preço do ovo, o que prejudica as classes econômicas mais baixas. É complexo”, resume o pesquisador Daniel Lamarca.
Daniel Lamarca, Pesquisador