Nas margens do rio Sobrado, a chácara Curva do Rio Presente de Deus Família Feliz, no município de Aurora do Tocantins (TO), é cercada por terras de grandes fazendeiros produtores de gado que chegaram principalmente a partir da década de 1980.
A família de nove pessoas que vive ali, numa pequena propriedade, se sustenta trabalhando nos abates. Os miúdos ganhos no corte da carne bovina das grandes fazendas são, muitas vezes, o alimento disponível para eles.
O mesmo fogão a lenha que cozinha o feijão para o almoço é o que ferve a água para escaldar o bucho e os pés. “Gás tá caro”, diz dona Ló. Criada na roça, ela aprendeu o ofício com a mãe, que fazia a limpeza das vísceras ganhas pelo pai, trabalhando nos abates das grandes fazendas.
Para a família de dona Ló, que vive sem renda fixa, com dinheiro dos bicos nos abates, o consumo de partes mais nobres do boi não é acessível. Quando eles comem carne vermelha, geralmente são os pedaços que o marido da sobrinha de dona Ló ganha nos abates das fazendas do entorno.
Aurora do Tocantins, onde eles vivem, é mais uma das quase 3 mil cidades brasileiras que têm mais boi do que gente. A população de bovinos é quase 12 vezes maior que a de seres humanos.
Trata-se de uma das muitas cidades que ajudam o país a manter o título de segundo maior produtor de carne do mundo, embora a população local nem sempre tenha acesso ao produto.
Na cidade, apenas 6,9% da população tem ocupação formal, de acordo com o IBGE. Anos atrás, o setor pecuário ocupava uma parte maior dos moradores. Atualmente a demanda por mão de obra está menor por conta da automatização da produção.
Vão-se os bois, ficam os danos. Mesmo não sendo um dos maiores produtores de bovinos do estado, por causa da pecuária, o índice per capita de emissões de gases de efeito estufa do município é quase três vezes maior que a média do país.
Aurora do Tocantins ocupa a 74ª posição em volume total de produção de carne do estado, que tem um dos maiores rebanhos do país. Contudo, o índice de emissões de gases poluentes per capita do município é muito maior que o de grandes metrópoles brasileiras.
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responsável por cerca de 3,2% do total mundial, ficando atrás apenas da China, EUA, Rússia e Índia. As emissões de metano geradas pela digestão dos ruminantes produzem quase dois terços das emissões do setor.