José Ponciano de Oliveira mora há mais de 40 anos no sítio Cabeça dos Ferreira, comunidade quilombola Macambira, no interior do Rio Grande do Norte.
A região é uma dentre diversas outras dos estados do Nordeste que têm experimentado o avanço de eólicas — e, com eles, ameaças ao estilo de vida da população.
A monumentalidade e o barulho constante do aerogerador dominam todo o ambiente: casa, terreiro e curral. Pouco mais de cem metros separam a casa da turbina.
Em maio de 2023, o Brasil atingiu a marca de 10 mil aerogeradores em operação – há 10 anos, eram 1.300. A energia gerada por eles representa 13,4% da matriz elétrica brasileira, segundo dados de julho da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
Inicialmente instalados massivamente na faixa litorânea norte do estado, onde ainda continuam a se expandir, os novos empreendimentos têm se voltado também para o interior, sobretudo o sertão do Seridó.
No ano passado, cerca de 4 mil hectares foram desmatados na já fragilizada Caatinga para a implantação de complexos eólicos ou solares, segundo dados do Mapbiomas.
A frustração dos moradores das áreas afetadas fica ainda maior quando eles percebem que o prometido desenvolvimento local que seria promovido por esses empreendimentos não os atinge.
Quando se inicia uma megaobra eólica ou solar, o aumento de empregos é instantâneo. Mas por serem regiões com acesso precário à educação formal, seja técnica ou de nível superior, a maior parte dos postos de trabalho locais são para cargos de baixa remuneração e temporários.