FOTOS: jOSÉ CÍCERO/AGÊNCIA PÚBLICA

Enquanto o agronegócio obtém bilhões de litros de água para irrigar suas plantações no Cerrado baiano, pescadores, ribeirinhos e agricultores sofrem com escassez hídrica.

“Tem uma base do rio que nunca passava. Do ano passado pra esse ano, o rio abaixou muito, muito. Dá pra ver. Tinha lugar [do rio] que a gente não atravessava não, só no nado mesmo. Esse ano eu atravesso com a água no peito”, conta o agricultor e também pescador Roberto Rodrigues Batista, de 37 anos.

Em outubro de 2021, quando a equipe da Agência Pública esteve em diferentes cidades do Cerrado baiano, o cenário relatado pelos moradores se repetiu diariamente A diminuição do nível ou o secamento total de cursos d’água têm causado consequênciasna vida desses ribeirinhos, pescadores e agricultores.

“Eu sonhei que eu fui pegar água no rio e chegou lá e só tinha uma poça. Sonhei duas vezes e foi um sonho repetido. Se ele chega a secar, aí um bocado de gente passa necessidade e morre de sede, porque o nosso abastecimento de água é só isso aqui”. - Roberto Rodrigues Batista

Entre os moradores das comunidades tradicionais do oeste baiano com quem a reportagem conversou, há um consenso: os recursos hídricos da região começaram a diminuir a partir do avanço da ocupação do agronegócio, iniciada entre as décadas de 1970 e 1980 e aprofundada nos últimos anos.

Propriedade ligada ao empresário Fernando Schettino, que obteve do estado a maior quantidade de água outorgada a qualquer pessoa, empresa ou grupo familiar no Cerrado baiano. tem autorização para captar mais de 320 milhões de litros de água por dia só do rio Arrojado.

Sem outra alternativa para irrigar suas roças, vários dos moradores estão sendo obrigados a deixar a região em direção à zona urbana dos municípios locais ou rumo a capitais como Goiânia e Brasília.

Especialistas consultados pela reportagem avaliam que é mesmo o agronegócio o principal responsável pelas mudanças relatadas pelos moradores do oeste baiano. Na visão desses pesquisadores, as mudanças climáticas não explicam o cenário sozinhas, já que a redução da vazão dos rios se tornou mais drástica que a do volume de chuvas nas últimas décadas.

Segundo levantamento feito pelo pesquisador Tássio Barreto Cunha, pelo menos 29 corpos d’água da região oeste da Bahia estão mortos.