Até abril de 2021, o Facebook não era capaz de moderar a desinformação sobre mudanças climáticas de forma satisfatória, apontam documentos vazados ao Congresso dos Estados Unidos em outubro de 2021 e acessados pela Agência Pública em parceria com o Núcleo Jornalismo.
Um funcionário levantou o debate na plataforma de trabalho da rede: “Nós precisamos de mudanças drásticas. Nós precisamos fazer mais para demonstrar nosso comprometimento em ajudar o mundo a resolver esse problema”, escreveu. O nome dos funcionários foi omitido nos documentos por segurança.
O post rendeu 96 reações, 36 comentários e 15 compartilhamentos entre os empregados da Big Tech.
“Nossa missão no Facebook é construir comunidades. Hoje, no entanto, a taxa de aquecimento global e o colapso ecológico estão ameaçando comunidades em todo o mundo. Há mais refugiados do clima a cada ano, muitos dos quais nas áreas de crescimento do Facebook.”
Essas informações fazem parte dos chamados Facebook Papers, documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA e fornecidos ao Congresso de forma editada pela assessoria legal de Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook, em outubro de 2021.
Além de não remover conteúdo falso, a rede fazia sugestões de preenchimento automático “enganosas”, de acordo com os documentos. Em agosto de 2019, um funcionário registrou que quem buscava por “climate change” (mudança climática) recebia como sugestões frases negacionistas como “climate change debunked” (mudança climática desmascarada) ou “climate change is a hoax” (a mudança climática é uma farsa).
“tem o compromisso de colaborar para o enfrentamento da mudança climática e tem feito mudanças de produto para combater a desinformação climática, incluindo rótulos informativos a resultados de buscas e a posts no Facebook sobre mudança climática. Esses rótulos direcionam as pessoas para nossa Central de Informações sobre o Clima, que está disponível em português e possui recursos como informações oficiais das principais organizações de mudança climática do mundo e uma seção apresentando fatos que desmentem mitos climáticos comuns”.
Procurada pela reportagem, a Meta - novo nome do Facebook - respondeu que:
Para David Nemer, pesquisador e professor de estudos das mídias na Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, “Não tem como uma informação que é entregue diretamente no bolso da pessoa, como as fake news são, competir com uma informação que está escondida em uma funcionalidade que pouquíssimas pessoas conhecem e que é de difícil acesso”.
Os documentos vazados mostram que os funcionários levantaram ideias de ações a serem tomadas pela companhia. Entre elas está encorajar os anunciantes a serem eco-friendly por meio de recompensas; impulsionar companhias ecológicas no ranqueamento de anúncios; e impedir de anunciar ou reduzir o impulsionamento de empresas que “são ruins para o meio ambiente”.
Com serviços gratuitos ao usuário, redes sociais como o Facebook e o Instagram, parte da empresa Meta, têm a maior parte de seu lucro arrecadado por meio de anúncios pagos e segmentados na plataforma. No terceiro trimestre de 2021, a companhia registrou lucro de mais de US$ 9 bilhões, o equivalente a R$ 50,4 bilhões na cotação da época.
“Hoje em dia, aqui nos Estados Unidos a gente vê muita propaganda dessas empresas querendo passar a ideia de que estão engajadas no combate da mudança climática, que estão se preparando para energias renováveis. Só que até que ponto, isso é verdade a gente não sabe.”
David Nemer, pesquisador e professor de estudos das mídias na Universidade da Virgínia