Estudo encontra elementos tóxicos em rios próximos a mineradoras após enchentes em MG.
Água que causa coceira e diarreia, lama com cheiro de óleo que quando seca parece cimento. Dados inéditos revelam que a água que chegou até alguns rios de Minas Gerais com as enchentes de janeiro contém elementos químicos como arsênio, ferro, manganês e chumbo acima dos valores máximos permitidos nas legislações vigentes para qualidade da água.
O estudo foi realizado por pesquisadores mineiros e de outros estados, com apoio do Núcleo de Análise de Resíduos e de Pesticidas da Universidade Federal do Maranhão.
As substâncias encontradas na água são comuns em rejeitos do beneficiamento de minério e em excesso podem causar danos à saúde. Ao serem identificadas em rios próximos a mineradoras, levantam suspeitas de que esse material possa estar sendo despejado nos rios por negligência das empresas.
Os rios cujas águas foram analisadas pertencem à bacia do rio Paraopeba e à bacia do rio das Velhas, ambas parte do quadrilátero ferrífero-aquífero, região onde se concentra grande parte das barragens de mineração do estado.
Responsáveis pela mineradora Vallourec, culparam as chuvas pelo que trataram como incidente, mas ambientalistas e pesquisadores ouvidos pela reportagem acreditam que parte das estruturas das barragens e dos rejeitos de mineração de outras empresas, que também teriam transbordado durante a chuvarada, pode ter sido liberada por falta de cuidado adequado com o material.
O que é interessante para a mineradora? É a venda do produto beneficiado. Isso dá dinheiro. O rejeito dá despesa. É o passivo ambiental. Então, para essas empresas, quanto menos tiver que investir na segurança do rejeito, melhor!
Paulo Rodrigues, geólogo e integrante do Pesquisa em Educação, Mineração e Território (EduMiTe)
As chuvas, apesar de fortes, estão dentro do esperado para a região nesta época — a tendência, no entanto, é que, com o aumento da temperatura e a intensificação das mudanças climáticas, eventos como esses se tornem cada vez mais frequentes.
Marcelo Seluchi, coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
O caminho da lama é o caminho dos rios. E o caminho da lama também mostra a questão da segurança hídrica, lembrando que as bacias do rio Doce e Paraopeba já sofreram impactos com desastres de barragens da Samarco, em Mariana, e Vale, em Brumadinho
Daniela Campolina, pesquisadora do EduMiTe
Para o estudo, foram recolhidas amostras de 63 pontos que tiveram suas coordenadas confirmadas por GPS.
Para a pesquisadora Dulce Pereira, em vários locais do mundo onde houve derrame de resíduos nos rios, a prioridade foi a retirada do material, o que poderia ser feito em Minas Gerais — se as mineradoras quisessem. “É mais fácil e econômico retirar resíduo do rio do que se ficar perdendo vidas humanas e destruindo o ecossistema. Isso é uma questão de escolha estratégica das mineradoras”, afirma.