Calado do porto do Rio Grande diminuiu? Afirmação de Rossetto é discutível

Operação do terminal de fato está enfrentando problemas em razão do assoreamento do canal de acesso, mas ainda não houve necessidade de redução oficial do calado

Desenvolvimento Economia exportação Gestão pública Indústria Investimento

Naira Hofmeister
3 minutos

“Estamos perdendo calado no porto do Rio Grande”, Miguel Rossetto (PT), em sabatina.

Candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, Miguel Rossetto afirmou que o porto do Rio Grande, que concentra as mais importantes exportações gaúchas – de produtos primários, como a soja, aos automóveis – estaria perdendo calado pela falta de dragagem, prejudicando a movimentação de cargas. A declaração ocorreu em sabatina promovida pela Associação Rio-Grandense de Imprensa no dia 9 de agosto.

O calado é uma informação divulgada pelos portos pois indica a capacidade dos navios que é suportada pelo terminal. A palavra se refere a uma medida feita na embarcação: uma linha vertical traçada desde o fundo do casco até a superfície da água – que pode inclusive variar para o mesmo navio em razão do peso da carga ou até mesmo da densidade da água. O Truco nos Estados – projeto de checagem de fatos da Agência Pública, feito no Rio Grande do Sul em parceria com o Filtro Fact-checking – verificou a declaração do candidato sobre a diminuição do calado no porto do Rio Grande.

Antes de abordar o calado, Rossetto também comentou que “o porto (do Rio Grande) está ameaçado por conta de falta de dragagem”. De fato, há anos não é feita a dragagem e algumas embarcações já sofrem com isso a depender das condições do mar. Mas o índice do calado oficial não foi reduzido. Por isto, a declaração sobre a perda do calado foi classificada como ‘Discutível’.

 

Marcação em navio (Foto: Wikimedia)

Consultada, a assessoria do candidato indicou como fontes de Miguel Rossetto reportagens na imprensa local que alertam para “operações com o calado no limite” em Rio Grande. A última dragagem do porto foi feita em 2010, quando o canal foi aprofundado e estabelecido que o calado máximo aceito é de 12,80 metros, ou 40 pés.

Desde então, outro tipo de dragagem, a de manutenção, não é feita. Com isso, o tráfego na hidrovia sofre com o assoreamento, ou seja, o acúmulo de sedimentos no fundo das águas. Sem a limpeza do leito do canal, as embarcações podem encostar nos bancos de areia, dependendo do movimento de marés ou de outras condições climáticas, mesmo que respeitem o calado oficial permitido.

“É como se a superfície do fundo do mar fosse aumentando, e com isso realmente os navios tem que passar com calado menor. Já está numa situação que alguns navios não conseguem entrar no porto com a maré normal, tem que esperar subir, senão vão encalhar”, explica o comandante Pedro Luppi, secretário executivo da diretoria de práticos da barra de Rio Grande.

Entretanto, o calado máximo do porto do Rio Grande se mantém inalterado porque essa é uma medida oficial – em 2017, a superintendência do terminal reiterou o dado. A própria Secretaria de Comunicação do Estado, por meio de nota enviada à nossa equipe por e-mail, confirma que “o porto vem enfrentando o assoreamento do canal de acesso, mas não houve, até este momento, necessidade de redução de calado (oficial)”. Em março de 2018, a Superintendência do Porto do Rio Grande entregou os estudos de licenciamento de um novo plano de dragagem, que agora espera liberação para execução.

Informada sobre a conclusão da checagem, a assessoria sublinhou a informação de que “hoje os navios de maior carga precisam aguardar a maré, para entrar e sair do porto. Este tempo de espera aumenta custos dos produtores, reduzindo a competitividade”. A assessoria aponta, também, “a possibilidade de redução do calado para 11 pés, colocando como consequência ter que passar a trabalhar com embarcações de menor porte”. “Uma das principais vantagens do Porto de Rio Grande era justamente sua capacidade de receber grandes embarcações”, conclui a nota.

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