Paulo Câmara erra ao elogiar a educação em Pernambuco

Candidato do PSB baseia a afirmação de que o estado tem a melhor educação do Brasil apenas na avaliação do Ensino Médio do Ideb de 2015. O mesmo desempenho não acontece usando outros parâmetros

educação

Mariama Correia
4 minutos

A educação pública é tema constante nos discursos e nos posts das redes sociais do candidato o Paulo Câmara (PSB), que disputa a reeleição ao cargo de governador de Pernambuco. Em uma das postagens na sua página no Facebook, Câmara afirma: “Pernambuco já tem a melhor educação pública do Brasil…”

O Truco nos Estados, projeto de fact-checking da Agência Pública feito em Pernambuco em parceria com a Marco Zero Conteúdo checou a declaração. Como etapa inicial da nossa metodologia, entramos em contato com a Assessoria de Imprensa do candidato para entender em quais bases de dados e fontes a afirmação foi fundamentada. A Assessoria informou que não iria se posicionar nem sobre a fonte dos dados e nem sobre o selo atribuído.

Diante da negativa, tomamos como base para a checagem o principal indicador de qualidade da educação básica no Brasil, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Esse indicador, inclusive, tem sido citado constantemente pelo candidato Paulo Câmara, que, em suas entrevistas, faz referência ao desempenho do estado no levantamento do Ideb de 2015, cujos dados são os mais recentes à disposição do público.

É fato que, na avaliação do Ensino Médio do Ideb de 2015, as escolas públicas do estado de Pernambuco conquistaram o primeiro lugar no ranking dos estados ao lado de São Paulo, com uma média de 3,9. A meta estabelecida para o estado naquele ano era de 3,6, ou seja, Pernambuco teve um desempenho acima da meta.

Mas declaração superlativa do candidato deixou de fora outros rankings do próprio Ideb 2015, esses relativos ao 5º e ao 9º ano do Ensino Fundamental, que também fazem parte da rede pública estadual de ensino. Nesses resultados Pernambuco aparece em posição intermediária. Por isso a declaração recebeu o selo de Falsa.

De acordo com a secretaria de Educação de Pernambuco, a rede estadual de ensino dispõe atualmente de 163 escolas que oferecem o Ensino Fundamental nos anos iniciais – do 1º ao 5º ano, sendo 147 delas indígenas. Nos anos finais do Ensino Fundamental, a partir do 6º ano, a rede estadual conta com 457 escolas.

O Ideb é feito apenas no 5º ano e no 9º ano do Ensino Fundamental, e no Ensino Médio. No ranking estadual do 5º ano do Ensino Fundamental da rede estadual do Ideb 2015, Pernambuco aparece na 18º posição, com uma média de 4,7. Já no ranking do 9º ano do Ensino Fundamental da rede estadual, o estado assume a 10º colocação, ao lado do Mato Grosso do Sul, com a média 4,1. Embora tenha atingido a meta estabelecida pelo Ideb (3,6) no quesito, Pernambuco ficou atrás de estados como o Ceará, o Acre e o Amazonas.

Outras análises comparativas sobre o aprendizado entre estados ainda podem ser obtidas no portal QEdu, que concentra dados do oficiais do setor. Para as escolas estaduais no 9º ano do Ensino Fundamental, com base em dados oficiais, o portal atribui um percentual de 24% de aprendizado adequado na competência de leitura e interpretação de textos entre os alunos da rede estadual de ensino. Isso significa dizer que de 49.106 alunos, apenas 11.700 demonstraram o aprendizado adequado, de acordo com o portal. A média do Brasil é de 30% neste mesmo quesito. Se considerarmos o mesmo dado, no Nordeste, Pernambuco fica atrás do Ceará (31%) e do Maranhão (25%).

Quando o assunto é a Matemática, a proporção de alunos que tiveram aprendizado adequado no 9° ano do Ensino Fundamental das escolas estaduais cai para 10%. Ou seja, dos 49.106 alunos, 4.694 demonstraram o aprendizado adequado.  O QEdu utiliza dados da Prova Brasil 2015, que entra no cálculo do Ideb.

A posição de Pernambuco na liderança do Ideb do Ensino Médio da rede pública estadual também contrasta com o resultado do (Enem) Exame Nacional do Ensino Médio. Em 2015, Pernambuco ficou na 9º posição nacional do Enem, que mede o desempenho tanto de alunos de escolas públicas quanto das privadas. O primeiro lugar no exame ficou com São Paulo,  também no primeiro lugar do Ideb do mesmo ano.

Como é calculado

O Ideb é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e das médias de desempenho nas avaliações do Inep e a Prova Brasil. Ele combina o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações para estabelecer as notas.

“A Prova Brasil é encaminhada para as escolas selecionadas, dirigidas a cada estudante matriculado, usando para isso a base do Censo Escolar. A portaria do Ministério da Educação sobre o cálculo do Ideb diz que o indicador é calculado desde que mais da metade dos estudantes da escola tenha comparecido. E já registraram a ausência de 14% dos estudantes dos anos iniciais e 22% dos anos finais do ensino fundamental na Prova Brasil, quantitativos expressivos que podem comprometer os resultados”, consideram pesquisadores que escreveram o artigo “Os cavalos também caem: Tratado das inconsistências do IDEB”

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