Medida do Ibama, investigada na Operação Akuanduba, da Polícia Federal, permitiu a madeireiras exportar 100 mil toneladas de madeira da Amazônia, o que inclui árvores ameaçadas de extinção.
Fernando Augusto/Ibama
Akuanduba é uma divindade da mitologia dos indígenas Arara, que habitam o estado do Pará. Segundo a lenda, se alguém cometesse algum excesso, contrariando as normas, a divindade fazia soar uma pequena flauta, restabelecendo a ordem.
Foi dessa lenda dos Arara que a Polícia Federal (PF) tomou emprestado o nome que batizou a operação de investigação deflagrada em maio de 2021, que mira o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, o presidente do Ibama Eduardo Bim e outros agentes públicos e empresários do ramo madeireiro com suspeitas de irregularidades em processos de exportação de madeiras.
A investigação aponta que as exportações de madeira foram facilitadas pelo despacho que tornou obsoleta uma Instrução Normativa que estabelecia que as exportações de madeira necessitavam de autorização específica do Ibama e previa procedimentos mais rigorosos para o controle de exportação, como inspeção de cargas por amostragem.
Segundo levantamento da Pública, somente as madeireiras associadas à Aimex (Associação das Indústrias Exportadoras de Madeiras do Estado do Pará) exportaram 174 mil toneladas de madeira desde o início do governo Bolsonaro. 57% dessas exportações –cerca de 100 mil toneladas – ocorreram na vigência da medida do Ibama.
Entre fevereiro de 2020 e maio de 2021, as empresas vinculadas à Aimex comercializaram pelo menos 12,5 mil toneladas de madeira de espécies florestais consideradas ameaçadas pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), como, por exemplo, angelim-pedra, cedro-rosa, cerejeira, itaúba e garapeira.
França, EUA, Japão, Alemanha e Bélgica foram os países que mais registraram envios de madeira considerada ameaçada pelo SFB enquanto vigorou o decreto do Ibama.
O volume de madeira comercializado, foi maior nos 15 meses em que vigorou o decreto do Ibama (de fevereiro de 2020 a maio de 2021) do que entre 2016 e 2019, quando 11 mil toneladas de madeira de espécies consideradas ameaçadas foram comercializadas pelas empresas.
Os dados desta investigação foram obtidos pela Pública em parceria com o Centro de Periodismo Latinoamericano de Investigación (CLIP).
Leia a reportagem na íntegra e o posicionamento das empresas investigadas.