Quando voltava das viagens de barco à Terra Indígena Vale do Javari, uma parada do indigenista Bruno Pereira em Atalaia do Norte (AM) era no pequeno restaurante de madeira do “seu” Rosedilson Barroso Salvador. Lá, ele tomava um caldo de mocotó e pedia para ouvir música sertaneja, em especial da dupla Milionário e José Rico.

Nascido em Pernambuco, o indigenista era torcedor do Sport de Recife (PE). Morou cerca de cinco anos em Atalaia, de 2012 a 2016, quando deixou a coordenação regional da Funai. Bruno foi assassinado no dia 6 de junho, junto com o jornalista Dom Phillips.

Reprodução TV Globo

A partir de 2020, voltou a frequentar a cidade de Atalaia do Norte, depois que se tornou consultor da Univaja, a principal entidade dos indígenas da região, e passou a ajudar na organização de equipes de vigilância indígenas.

Reprodução Youtube Univaja

Bruno também almoçava no restaurante da Dona Dila. No dia 2 de junho, conforme lembra José “Pacu”, marido da proprietária, o indigenista comeu dois peixes fritos e tomou quatro refrigerantes ao lado do jornalista Dom Phillips. Foi a última refeição em Atalaia antes de seguirem viagem pelo rio Itaquaí, da qual não mais voltariam.

Sublinhado rabiscado

Nos últimos meses de vida, Bruno vinha se hospedando na Pousada Castro Alves. Além de bem situada, a poucos metros da praça central, ela fica a uma quadra da sede da Univaja, o que facilitava seu trabalho como consultor da entidade.

Foto Daniel Marenco/EFE

Mais ao fundo no terreno e em frente a um lago, Bruno e a esposa Beatriz Matos construíram uma pequena casa branca de alvenaria. Poucos meses antes da morte de Bruno, o casal convidou Jaime Mayoruna, que é o atual secretário de assuntos indígenas da Prefeitura de Atalaia, para cuidar da casa, o que foi prontamente aceito.

Num quartinho ao lado da casa, Bruno deixou uma pequena biblioteca com livros e textos impressos, hoje pegando mofo. Beatriz pretende buscar os pertences do marido em breve. Há livros sobre a Funai e o SPI (Serviço de Proteção ao Índio) e textos antropológicos misturados a obras de interesse geral.

Nas ruas e nos restaurantes, pousadas e padarias de Atalaia do Norte, cidade com 20 mil habitantes e a mais próxima da Terra Indígena Vale do Javari, a morte de Bruno e Dom é lamentada como se fosse a de um parente ou amigo. Para muitas pessoas, ele de fato era.

Os corpos de Bruno e Dom foram levados para Atalaia e embarcados num helicóptero das Forças Armadas nos fundos da prefeitura de Atalaia. Decolou para Manaus e, de lá, os corpos foram levados para Brasília. Foi assim a última viagem de Bruno Pereira ao Vale do Javari que ele tanto amou e pelo qual sacrificou a própria vida.

Foto: Chris Ratcliffe/Greenpeace

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