o “índio do buraco” ficou conhecido por abrir covas no chão, e já foi chamado na imprensa de “homem mais solitário do mundo”. Nunca se soube seu nome, língua ou etnia.
Por mais de 25 anos, ele viveu completamente isolado num pedaço de mata em Rondônia monitorado por indigenistas da Funai, apesar de intensas pressões de políticos e fazendeiros da região a fim de desacreditar a interdição do território, com cerca de 8 mil hectares, e perseguir os servidores da Funai.
Em 24 de agosto de 2022, o indígena foi encontrado pela Funai morto em seu tapiri, “deitado na rede, e paramentado [com penas de arara] como se esperasse a morte”, conforme um indigenista comentou depois.
A existência do indígena conseguiu ser comprovada pelos indigenistas da Funai Altair Algayer e Marcelo dos Santos em 1996, após uma extensa investigação. Para Marcelo, o território que ele habitava deve ser imediatamente protegido porque corre risco de ser alvo de invasões e degradações.
O “índio do buraco” tornou-se um símbolo da resistência dos isolados também porque repetidamente recusou um contato mais prolongado, chegando a disparar, por duas vezes em anos diferentes, uma flecha na direção de funcionários da Funai que se aproximaram.
No início de 2023, quatro exames realizados pela perícia criminal federal da Polícia Federal não chegaram a uma conclusão definitiva sobre a causa da morte do indígena. Um deles apontou morte “natural/não traumática” como “a hipótese mais provável”.
Os peritos alegaram que as condições do cadáver, deteriorado pela ação do tempo, dificultaram os exames. Estimou-se que ele tinha morrido de 30 a 40 dias antes do início das análises.
Seu estado nutricional “aparentava caquexia”. Trata-se de um grau extremo de enfraquecimento, uma perda importante de peso e de massa muscular. Nas últimas imagens do indígena vivo, ele aparece esquálido, utilizando um ‘cajado’ como apoio.
Procuradores da República do MPF defendem que a área habitada pelo "índio do buraco” deve ser identificada e demarcada como terra indígena. A terra, diz o MPF, deverá ter uma “destinação socioambiental, consultando-se, a respeito, os povos indígenas da região”.