Mais de 51 mil campos de futebol é quanto o agronegócio desmatou no cerrado baiano. O dado está em um relatório inédito obtido com exclusividade pela Agência Pública que aponta que grandes fazendas cometeram crimes ambientais entre 2015 e 2021 com respaldo do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema).
No Oeste da Bahia, entre as bacias dos rios Grande e Corrente, a vida de uma população tradicional estimada em mais de 600 mil pessoas, foi afetada pelo desaparecimento de 50.723,99 hectares de vegetação nativa de cerrado.
A denúncia é resultado de um projeto inédito intitulado “Desvendando as A.S.V do Cerrado Baiano”, com o cruzamento de dados oficiais e análise sobre milhares de portarias expedidas pelo órgão oficial ambiental estadual (Inema) autorizando o desmatamento.
Com base no levantamento, a Pública fez um ranking, hierarquizando, pelo tamanho das áreas desmatadas, a participação de cada um dos empreendimentos.
No topo está a propriedade da Delfin Rio S/A Crédito Imobiliário, controladora de uma das fazendas do Condomínio Estrondo, em Formosa do Rio Preto, que teria derrubado quase a metade do total, exatos 24.732 hectares de vegetação nativa do cerrado na bacia do Rio Grande.
Em seguida vêm Santa Colomba, com 4.986,61, a única das 16 que, localizada na bacia do Rio Carinhanha, foi incluída no levantamento pela relevância de um sério conflito fundiário entre comunidade e empreendedores.
As três fazendas com maior área desmatada na região, Delfim, Santa Colomba e Tamarama, são também aquelas que teriam infringido as legislações nacional e estadual — duas leis, dois decretos e oito portarias e normas de proteção social e do meio ambiente.
Segundo o Imaterra, o Inema deixou de analisar de forma adequada o impacto do desmatamento na região.
O estudo do Imaterra alerta também que a empresa Delfin teria gerado uma relação crítica com as comunidades tradicionais de Cachoeira, Marinheiro, Cacimbinha, Gatos e Aldeia, no entorno da Fazenda Estrondo, onde vivem várias gerações. A área é palco de sucessivos conflitos gerados pela sobreposição do desmatamento autorizado em territórios dessas comunidades tradicionais.