Mortes no Complexo do Salgueiro reforçam a pesquisa de Terine Husek Coelho de que quando morre um policial em serviço, a chance de civis morrerem no mesmo dia aumenta em 1150%.

Em novembro de 2021 o Rio de Janeiro amanheceu com mais uma operação sangrenta da Polícia Militar. Após uma incursão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM fluminense, ao menos nove pessoas foram mortas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ) em uma ação que durou por volta de 35 horas e onde foram disparados, segundo noticiou o programa Fantástico, da TV Globo, 1500 tiros.

A operação teve início duas horas depois da morte do sargento da PM Leonardo Rumbelsperger da Silva, de 40 anos, que foi morto enquanto fazia um patrulhamento de rotina na região.

Moradores do Salgueiro encontraram os corpos em um manguezal próximo ao local e, segundo relatos, os corpos traziam marcas de tortura.

O episódio se junta a uma longa lista de operações policiais que ocorrem no Rio de Janeiro após a morte de policiais em serviço e que, frequentemente, são muito letais. Um dos exemplos são as mortes ocorridas no Jacarezinho, em maio de 2021, quando 25 pessoas foram mortas após uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Terine Husek Coelho, pesquisadora do Instituto Igarapé, mestre e doutoranda em Ciências Sociais pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) apontou em sua pesquisa de doutorado a correlação clara entre a vitimização de policiais em serviço e o aumento da letalidade policial na mesma região após a realização de operações policiais. A Pública a entrevistou sobre o tema.

“Eles [a polícia] falam assim: ‘Se eu não der uma resposta, a minha tropa vai achar que eu não respondo. E elas esperam que eu faça alguma coisa. Os familiares também esperam que eu faça alguma coisa’. E esse fazer alguma coisa se traduz, aqui no Rio de Janeiro, especificamente, com mais força, numa operação policial. E numa megaoperação.”

A resposta  institucional

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“É importante ter o acompanhamento das mortes dos policiais. Entender o que aconteceu não em uma morte só, mas em muitas. Onde o policial morreu, por que morreu, como aconteceu, em que tipo de operação. A informação sobre a vitimização de policiais é muito baixa. Você tem pouquíssimas informações sobre essas mortes de policiais.”

Terine Husek Coelho, pesquisadora do Instituto Igarapé, mestre e doutoranda em Ciências Sociais pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

“É preciso entender que colocar eles [os policiais] armados na sequência em uma megaoperação é um desastre.”

“Um policial que esteve em mais de uma ocorrência que teve letalidade, me disse que ficou muitos e muitos meses revoltado, que não teve atendimento psicológico. Primeiro colocaram ele para trabalhar na mesma área. Ele se descontrolou. Aí deram férias compulsórias a ele. Mas ele me falou: 'uma hora eu vou voltar pra rua e vou fazer alguém pagar essa conta'”.

Isso não é uma coisa que vá ser resolvida hoje, é um acompanhamento que será necessário durante muito, muito tempo.”

Terine Husek Coelho, pesquisadora do Instituto Igarapé, mestre e doutoranda em Ciências Sociais pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)