No dia 30 de dezembro de 2022, pouco antes de sua posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com o líder kayapó Raoni, a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) e lideranças indígenas do Vale do Javari em Brasília.
Eles conversaram sobre a decisão de Joênia de aceitar o convite para se tornar a primeira indígena presidente da Funai, agora denominada Fundação Nacional dos Povos Indígenas.
Na conversa, Raoni falou a Lula sobre o “erro” da construção da usina hidrelétrica Belo Monte, no Pará, e lembrou que o presidente “não ouviu”, na época, as denúncias que ele e o movimento indígena fizeram contra a obra desde que o projeto, arquivado pela ditadura militar, foi retomado pelo governo do PT em meados dos anos 2000.
Joênia contou a servidores da Funai que falou ao presidente que “estava aceitando o convite mas não quero interferência política [na Funai], ponto número um, eu quero total autonomia para os povos indígenas”.
Joênia disse que Lula imediatamente concordou com sua “condição”, o que a deixou “bastante aliviada”. Ela também citou o baixo orçamento da Funai para este ano [2023]. Lula a confortou dizendo: “‘a gente vai ter como fortalecer’”.
No mesmo encontro, a ministra do pioneiro Ministério dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara lembrou que o anúncio sobre um novo ministério indígena foi feito por Lula no ano passado [2022] no Acampamento Terra Livre, em Brasília.
Ela disse que, na época, falou a Lula que os indígenas queriam participar do futuro governo do petista, mas não tratou da criação de um novo ministério, uma ideia que, segundo ela, partiu do próprio então pré-candidato.
Sonia disse que, em conversas ao longo do último ano [2022], Lula repetiu a ela e a Joênia:“não estou brincando de garantir [seus direitos], de proteger vocês, eu estou falando sério”. “Do que ele [Lula] está falando, a gente acredita”, disse Sonia, “que ele está realmente, agora, com essa vontade de fazer a reparação do governo anterior, que ele não fez.”
A ministra e a presidente da Funai – que esperam contar com o apoio político de outros ministros da Esplanada, como o da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, iniciaram nesta semana a inédita caminhada em que os indígenas encabeçam as políticas voltadas para seus próprios povos.
Foto: reprodução/ facebook - Erika Kokay
Para mim é trabalho e responsabilidade. O tempo todo vou prezar bastante por ter o maior cuidado e eficiência. Não temos só discurso. Nós temos que ter ações também. Porque se dá certo, estamos numa luta juntos. Mas se der errado, nós também estamos errando juntos. É um princípio da minha vida, que trouxe para o meu mandato, que é a coletividade.
Joênia, sob aplausos dos servidores da Funai.