Foto: Dado Galdieri/Hilaea Media
A comunidade teve origem com a construção de um orfanato. Nos tempos de glória, a Cidade dos Meninos chegou a abrigar mais de 1.200 órfãos. Nas cinco décadas em que funcionou, foi o lar de cerca de 5 mil órfãos e crianças retiradas das ruas do Rio de Janeiro e de outros estados do Brasil.
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O primeiro alerta do desastre que selou a história da comunidade do orfanato e de seus moradores está em uma placa, a menos de 1 quilômetro da entrada:
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“PERIGO – ÁREA CONTAMINADA”.
A placa foi instalada há quase três décadas, e marca também a última vez que o Governo Federal tirou do papel algum projeto para controlar a contaminação por hexaclorociclohexano, o HCH. O pozinho branco, de aparência inofensiva, é o agrotóxico organoclorado, mais conhecido como “pó de broca”.O nome vem de um besouro que ataca o cafezal, a “broca do café”.
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No ano da inauguração do abrigo, o Ministério da Saúde e Educação instalou o Instituto de Malariologia em oito pavilhões desocupados do orfanato. Inicialmente apenas pesquisas sobre malária seriam realizadas ali. Três anos depois, as instalações passaram a ser usadas para produzir inseticidas organoclorados – que hoje são proibidos em todo o território nacional – para matar o mosquito que transmite a malária.
Uma década depois, a fábrica fechou as portas. Os funcionários foram transferidos para Manguinhos, também no Rio de Janeiro, deixando para trás materiais de escritório, móveis e dezenas de tonéis de papelão contendo cerca de 400 toneladas de pó de broca puro.
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Miguel, conhecido como “Miguel do pó”, participou de diversas ações judiciais para descontaminar a área. Contou a história da Cidade dos Meninos em palestras, audiências públicas e reuniões com vereadores, deputados estaduais, federais e até mesmo com ministros da Saúde.
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“Os organoclorados têm uma estrutura química muito estável no meio ambiente e no corpo humano, e por isso demoram anos para se degradar. Usar como inseticida uma substância que não se degrada no meio ambiente é uma bomba” Ana Cristina Simões Rosa Doutora em Saúde Pública e Meio Ambiente da Fiocruz
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Ao longo das décadas de 1980 e 1990, moradores que residiam a até 12 km da área da fábrica apresentaram aumento da mortalidade por câncer de pâncreas, fígado, laringe, bexiga e tumores hematológicos em homens, e de câncer de pâncreas e tumores hematológicos em mulheres, na comparação com grupos populacionais que viviam em áreas mais afastadas.
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