Saberes ancestrais sobre o uso controlado do fogo para evitar queimadas, reconhecidos pela ciência, inspiram projeto de lei que institui nova política de combate a incêndios.

Bolivar Xerente é chefe de uma das brigadas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, do Ibama,  que estão trabalhando em todo o Brasil.

Enquanto as chamas se alastram país afora, ele conta que a situação na Terra Indígena (TI) Xerente, onde vive, no Tocantins, está menos crítica do que em outros locais.

“Conseguimos reduzir o capim seco, que é o combustível. Quando a gente fez as queimas de baixa intensidade, conseguimos preservar.”  - Bolívar Xerente

Via instituto Socioambiental (ISA)

Quando utilizado de maneira controlada e monitorada, nos lugares e épocas certas, o fogo pode ser benéfico, como sabem há séculos os povos indígenas que aprenderam a manejá-lo de forma a preservar o ambiente onde vivem.

Por: Sofia Moutinho

Essa é uma das principais premissas do Manejo Integrado do Fogo (MIF), que pode virar política nacional caso o Projeto de Lei (PL) 11.276/2018 seja aprovado pelo Congresso Nacional.

"O conceito de Manejo Integrado do Fogo abrange tudo que é feito para proteger uma área contra incêndios florestais, desde a prevenção até o combate”.  - Rodrigo Falleiro Analista Ambiental do Prevfogo/Ibama.

Quando - Rodrigo Falleiro fala em prevenção, refere-se, por exemplo, a duas modalidades de queimas: as prescritas, feitas para fins de preservação ambiental ou pesquisa, e as controladas, realizadas para abrir roças e pastos – ambas executadas com planejamento, monitoramento e objetivos predefinidos.

Antes dessa abordagem, a política adotada pelo Ibama era a do  “fogo zero”, que via o fogo como prejudicial em todas as circunstâncias e tinha como objetivo evitá-lo a qualquer custo. No entanto, com o passar dos anos, pesquisadores perceberam que alguns ecossistemas – sobretudo nos biomas Cerrado e Pantanal – são, na verdade, dependentes do fogo.

Foto de Takumã Kuikuro/2020

Em 2007, o Ibama promoveu a primeira experiência de resgate de conhecimentos sobre o uso do fogo com um povo indígena do Cerrado, os Paresi, do Mato Grosso – o levantamento se deu sobretudo com o objetivo de analisar os efeitos do fogo sobre os animais e as plantas frutíferas.

O levantamento, feito com base em imagens de satélite, indica ainda que nos dois locais as queimas prescritas “efetivamente reduziram a ocorrência de grandes incêndios florestais, o número de grandes e médias cicatrizes na vegetação, a intensidade do fogo e emissões de gases de efeito estufa”.

O estudo destaca também que esse tipo de queima é reconhecido como uma estratégia de mitigação climática em ecossistemas propensos ao fogo.

Foto: José Antonio Barros Seixas/ Prevfogo-Alagoas

O MIF  pode ajudar também na redução de incêndios em florestas tropicais úmidas, como a Amazônia.

Foto: Denisa Starbova