Ao longo do governo de Jair Bolsonaro (PL), a caserna ampliou sua atuação na Amazônia. Para além da segurança, avançou sobre o desenvolvimento econômico e a política, tomando também as rédeas da proteção ambiental da Amazônia.

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Mas o desmatamento tem batido recordes e os conflitos escalaram, com repetidas chacinas de indígenas, ribeirinhos e outros povos.

Associadas ao garimpo, facções criminosas se infiltram na maior floresta tropical do mundo e, assim, ameaçam a soberania nacional. Além disso, as Forças Armadas parecem ignorar problemas ligados a mineradoras estrangeiras na região.

Imagem meramente ilustrativa/Neil Palmer/CIAT/Wikimedia Commons

A Agência Pública conversou com a pesquisadora da UNESP e do Instituto Tricontinental, Ana Penido, uma das autoras do estudo  “A defesa da Amazônia e sua militarização”, recém-lançado pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

O estudo questiona conceitos centrais na perspectiva militar – como defesa das fronteiras, geopolítica e soberania – e analisa os modelos de integração da Amazônia propostos pela caserna. Leia alguns trechos da entrevista a seguir:

A própria história do Brasil mostra os rastros do colonialismo no pensamento militar. Exércitos de outros países do nosso continente nasceram a partir de lutas de libertação nacional, com algum grau de engajamento popular. Mas, no Brasil, as Forças Armadas se formaram e consolidaram-se em acordo com as elites (...).

Foto:Valter Campanato/Agência Brasil

“Na prática, vê-se que as Forças Armadas os consideram [os povos originários] menos capazes de interferirem, de alterarem a dinâmica interna do país – por isso há esta noção dos ‘irmãos índios’, que devem ser ‘integrados’ à sociedade.”

“Esta formação histórica dos militares se plasma em uma visão em que, para eles, não há contradição em permitir que mineradoras estrangeiras venham e explorem a Amazônia, pois isso traz o desenvolvimento econômico à região enquanto eles próprios mantêm o controle sobre a floresta e seus povos”

“Desde o início do governo Bolsonaro, temas que realmente atentam contra a soberania têm avançado, mas não parecem preocupar os militares – como o projeto de lei que amplia o limite nas vendas de terras para estrangeiros, aprovado no Senado.”

Marcos Oliveira/Agência Senado

Acreditamos que esta militarização é muito mais profunda, inclusive anterior ao governo Bolsonaro, e que o que alguns chamam de ‘partido militar’ tende a perder força com uma eventual troca de governo. Mas não desaparecerá.

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

“Se não desconstruirmos, junto às Forças Armadas, a noção que os brasileiros são uma ameaça quando se organizam para exigirem seus direitos, teremos problemas novamente. É necessário desconstruirmos a ideia de vigilância dos militares sobre civis, imigrantes, indígenas e assim por diante.”

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E leia a entrevista na íntegra.