Kellyane Vaz, da cidade de Palmas (TO), não dirige desde o dia 7 de junho de 2020, quando passou a apresentar sequelas neurológicas desencadeadas pela covid-19. Apenas em 2023 voltou a caminhar normalmente e está com a memória normal, mas “a questão da coordenação motora ficou comprometida”.
Assim como Kellyane, cerca de um terço das pessoas que tiveram a doença podem estar enfrentando a “covid longa”, muitas sem nem saber, de acordo com o Instituto Todos pela Saúde. Entre os sintomas da síndrome pós-covid estão problemas neurológicos, respiratórios e gastrointestinais prolongados.
Para o pesquisador científico do ITpS, Vanderson Sampaio, devido à variedade de sintomas da síndrome pós-covid, seu diagnóstico é difícil. Ele aponta que as sequelas são mais comuns entre as pessoas que foram infectadas com as primeiras cepas do vírus, em parte porque não havia vacinação na época.
O infectologista Max Igor Lopes, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, relata que a medicina ainda não sabe como o covid-19 causa tantas sequelas, o que explica parte da dificuldade de identificar e tratar a doença. As sequelas nem sempre aparecem logo após a infecção, e podem surgir depois de meses.
A vacinação em massa conseguiu reduzir drasticamente a quantidade de mortes e casos graves da doença, mas, em um país que teve ao menos 37 milhões de casos, é possível que milhões de pacientes sigam sofrendo com as sequelas provocadas pela infecção.
A médica da família, Raquel Soeiro, aponta que a falta de orientação sobre as sequelas leva os pacientes a um “ciclo vicioso”. “Eles não conseguem mais fazer as atividades que eles faziam antes e aí vão deprimindo. E muitas vezes as pessoas não acreditam neles”, diz.
Francisca Benedita enfrentou um caso grave de covid-19 ainda em 2020 e hoje faz tratamentos para as sequelas que não são cobertos pelo SUS. “Se não tivesse condições, como que eu ia pagar a fisioterapia? Saí do hospital com uma ficha imensa de medicação. Eu não ia me recuperar”, afirmou.
O relatório do Grupo Técnico de Saúde do governo de transição, publicado em dezembro de 2022, reconhece a necessidade da criação de políticas específicas para o tratamento das sequelas da covid-19. Especialistas chamados pelo atual governo para avaliar a gestão sanitária do ex-presidente Bolsonaro escreveram que havia “dados insuficientes e imprecisos” sobre a “incidência de covid longa”.
”
”
comenta o Vanderson.