A expressão “isolados” vem perdendo significado prático para os indígenas Moxihatëtëma thëpë da região da serra da Estrutura, dentro do território Yanomami, em Roraima.

Documentos e imagens inéditas obtidos pela Agência Pública mostram a presença do garimpo a apenas 12 km dos únicos indígenas em isolamento voluntário confirmados no território Yanomami pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

Um dos documentos enviados à Funai em 2020 alertando sobre a situação foi obtido pela reportagem e registra que “o garimpo tem sido a principal ameaça à reprodução física e cultural dos Moxihatëtëma, cujo território se encontra cercado pela invasão garimpeira”.

Luciano Pohl, da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) explica que, no caso dos indígenas isolados, os riscos com a proximidade do garimpo se agravam pela vulnerabilidade a que ficam expostos, podendo ser contaminados com doenças levadas pelos invasores – “ainda mais no momento de pandemia de Covid-19”. “Em situações assim, uma simples gripe seria capaz de dizimar vários integrantes do grupo”, afirma.

O território Yanomami é a maior Terra Indígena (TI) do país, onde vivem mais de 26 mil indígenas dos povos Yanomami e Ye’kwana, distribuídos em 371 aldeias. O território foi reconhecido como de ocupação tradicional, demarcado e homologado em 1992.

O garimpo ilegal em terras indígenas Yanomami afeta o meio ambiente e a saúde de quem vive no território – estimam-se até 20 mil garimpeiros no território. O mercúrio, utilizado na extração do ouro, contamina as águas locais. Com o garimpo, indígenas ficam mais expostos a doenças como a malária, que explodiu na região. Há também o problema da desnutrição infantil, com um dos maiores índices do país.

O relatório “Cicatrizes da floresta” registra que, ao final de 2020, somavam-se 2.400 hectares de área degradada na TI Yanomami – o equivalente a 2.400 campos de futebol. Desse total, 500 hectares de garimpo foram registrados entre janeiro e dezembro de 2020, um aumento de 30%.

Segundo reportagem da InfoAmazônia, a mineração e o garimpo disputam hoje uma área maior do que a Bélgica dentro da TI Yanomami. A situação tem escalado a violência na região, com ataques de garimpeiros e indígenas em que há a suspeita de participação de facções criminosas como o PCC – situação abordada no especial jornalístico Ouro do sangue Yanomami, da Repórter Brasil e Amazônia Real.