Itaipu foi, por anos, a maior hidrelétrica do mundo. Com a imposição de jornadas diárias de trabalho que chegavam a 16 horas ininterruptas, aliadas à precariedade da infraestrutura de segurança, Itaipu se converteu num sem-fim de acidentes, muitos fatais.
conta Antônio Fernandes Neto, que trabalhou como técnico em segurança do trabalho na empresa.
Na época, sua equipe chegou a reunir documentos e relatos sobre mortes e acidentes ocorridos na obra. O acervo de dados apontava que até 800 pessoas teriam morrido nas obras. Todos os documentos, diz ele, foram perdidos em dois incêndios “acidentais”.
Além disso, a avaliação sobre os trabalhadores que seriam contratados para atuar na obra não se limitava a uma leitura curricular de sua experiência profissional.
A vigilância sobre a vida pregressa dos funcionários ficava a critério das Assessorias Especiais de Segurança e Informações, departamentos da usina que tinham militares em posição de comando e estavam diretamente ligados ao governo.
Esses acontecimentos que marcaram os canteiros de obra da usina foram analisados por seis historiadores durante 18 meses. O levantamento faz parte do projeto “A responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a ditadura”, da Unifesp.
Já no ponto de vista ambiental, a construção de Itaipu interrompeu o fluxo do rio Paraná, numa área antes conhecida como Sete Quedas, um conjunto de cachoeiras que tinha forte apelo turístico na região.
Uma das populações locais mais atingidas, de acordo com os pesquisadores, foram os indígenas, o povo Avá-Guarani
que vive no entorno do rio Paraná, vítima de deslocamentos forçados e de etnocídio, segundo sua própria visão.
A truculência militar ostentada no processo de construção de Itaipu deixou como legado episódios trágicos, mesmo para além de seus trabalhadores. É o caso do embaixador José Jobim.
O diplomata se preparava para escrever um livro sobre as negociatas da construção da hidrelétrica na fronteira entre o Brasil e Paraguai. Desapareceu em março de 1979 e, alguns dias depois, seu corpo foi encontrado em uma simulação grotesca de suicídio.
Conhecedor do projeto em profundidade, o diplomata era dono de um vasto acervo de documentos sigilosos com potencial de implodir os esquemas que marcaram as obras daquela que foi, por anos, a maior hidrelétrica do mundo.