Se referir a Maria Elizabeth Santiago, Beth de Oxum, a partir de sua comunidade é a maneira mais justa de contar sua história, ainda que a contribuição do seu trabalho seja de relevância nacional.
Pelo trabalho que ela descreve como “reencantamento da cultura a partir da autoestima de um território”, enfrentou preconceito, desafiou o machismo que impedia mulheres de tocarem em maracatus e afoxés e sofreu repressão da política do Estado.
Pernambuco a elegeu primeira mãe de santo Patrimônio Vivo no estado no ano passado. O reconhecimento é dado a pessoas e instituições que mantêm pulsantes as manifestações culturais do país.
O título concedido a ela, de Patrimônio Vivo de Pernambuco, não tem semelhante no âmbito nacional. Em nível estadual, há outras ialorixás que receberam a mesma distinção, como Mãe Neide, de Alagoas.
Seu famoso coco de umbigada acontece no bairro de Guadalupe, a menos de 15 minutos de caminhada da região turística de Olinda. “Nós começamos tocando no quintal de casa. Depois passamos para o lado de fora. De repente existiam mais de mil pessoas naquele beco”, conta.
A dança do coco faz dos pés um complemento da percussão e é diretamente ligada à música dos terreiros de religião afro-indigena. Os terreiros são, para a sacerdotisa, "um espaço de proteção da cultura tradicional brasileira."
Mãe Beth conta que o crescimento do coco gerou repressão em Olinda. Quando as celebrações atraiam grande público, a polícia chegava para parar a sambada.
Mãe Beth considera que a repressão a manifestações culturais é uma tentativa de sufocar a liberdade de pensamento. “Esse tipo de manifestação gira uma chave na cabeça das pessoas. De uma hora pra outra o território entende que ele tem autonomia, que ele pode ser protagonista”.