No final de maio, 128 pessoas morreram e ao menos 6 mil ficaram desabrigadas devido às fortes chuvas que atingiram Recife e a região metropolitana da capital pernambucana. Já a cidade de São Paulo teve o mês de julho mais seco de sua história, após passar 47 dias sem qualquer sinal de chuva.

A medida como esses desastres afetam as cidades, porém, segue uma lógica conhecida: os que mais sofrem com isso são pessoas negras, de baixa renda e que habitam regiões periféricas, em especial mães chefes de família, como mostra relatório do Instituto Pólis ao qual a Agência Pública teve acesso.

O estudo “Injustiça socioambiental e racismo ambiental” observou três capitais brasileiras — Belém, Recife e São Paulo — e encontrou padrões que se repetem no resto do país. A partir dos dados, é possível enxergar como o racismo ambiental acontece na prática.

Em Belém, 75% das pessoas que moram em áreas de risco são negras, mostra o estudo. Cerca de 99% dos 193.557 domicílios em favelas estão localizados em encostas e 1% em margens de rios, lagos ou córregos. Mulheres de baixa renda, com até um salário mínimo, e chefes de família são mais afetadas: representam 21% das moradias em áreas de risco — taxa que desce para 16% na média da cidade.

A minha grande preocupação morando próximo ao [rio] Tucunduba é que vai haver um momento com toda essa questão de mudança do clima, mudança no índice pluviométrico, com chuvas mais fortes, mais intensas, que vai chegar um momento em que esse rio não vai suportar essa carga.

Waleska Queiroz, moradora de Belém e ativista climática.

Segundo o relatório, os riscos ambientais de Recife “estão vinculados tanto a perigos hidrológicos, de inundação dos rios, quanto a perigos geológicos, de deslizamentos de terra em áreas de maior declividade”.

Quando a chuva vem, vem e inunda a maioria das casas que estão na beira do rio. E esse ano foi a pior chuva que teve, porque inundou uma grande parte da comunidade e muita gente perdeu tudo. Foi um caos, a água chegou no teto das casas.

Ediclea Santos, moradora de Recife e integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco

Em São Paulo, 55% das pessoas que vivem em regiões de risco são negras. Dos 355.756 domicílios localizados em favelas, 38% se encontram em encostas e 25% em margens de rios, lagos ou córregos.

Já aconteceu de eu ficar presa no ônibus, esperando a água baixar. Já aconteceu de, quando chove muito, cair a energia e só voltar depois de um dia.

Amanda Costa, moradora de São Paulo e fundadora do Instituto Perifa Sustentável.

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