Desde 2019, a Agência Pública tem investigado a atuação da Exodus no Brasil.
A entidade prega ser possível, para pessoas LGBTQI+, abandonar desejos e mudar de orientação sexual e identidade de gênero “por meio do poder transformador de Jesus Cristo”.
Depois de presenciar um congresso da organização na cidade de Campinas, interior de São Paulo, a Agência Pública passou a investigar a atuação de rede de religiosos para reprimir homossexualidade e identidade de gênero em cinco países: Paraguai, México, Peru, Equador e Brasil.
A Exodus Global Alliance é uma organização evangélica que se estende por vários continentes articulando igrejas, missionários, políticos, psicólogos e defensores de terapias de reorientação sexual, a chamada “cura gay”. A Exodus foi formada em 1976, durante um congresso de “ex-gays” que promoveu.
Na América Latina, a Exodus está bem ativa. Tem dois escritórios sede – um no México, e outro em Londrina, Paraná, no Brasil.
No Peru, quase 40% das pessoas já frequentaram um serviço de saúde mental que tenha tentado mudar sua orientação sexual ou identidade de gênero. 62% das vítimas que responderam ter sido submetidas a esse método disseram ter passado por esses episódios sendo menores de idade.
(Fonte: Saúde mental e população LGTBQI+ - Mais Igualdade Peru)
No Brasil, além de orientar gays, lésbicas e bissexuais a “deixarem comportamentos homoafetivos”, mulheres e homens transexuais devem descartar suas identidades para serem restaurados.
Também discursam em seus congressos: "O que você tem aí embaixo? Não tem um pênis e um testículo? Mulher. Pronto. Acabou. Resolvido o assunto. Deus é Deus.”
As iniciativas de reversão sexual não ficam restritas ao ambiente religioso. Organizações como a Exodus se articulam politicamente e fazem lobby junto a parlamentares, membros do Executivo e do Judiciário de vários países da América Latina. O objetivo é retroceder com os direitos LGBTQI+.
"Para a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), a terapia de conversão para pessoas LGBTQI+ é uma forma de tortura."
A reportagem conversou com um homem trans que foi coagido pelos pais a passar pelo processo de “cura gay” no Equador. Garantiram a Gonzalo* (25 anos) que ele poderia deixar de ser um homem trans. Mesmo que ele não quisesse, seus pais estavam convencidos de que sua identidade de gênero poderia “ser curada”. Relacionam-na com doença mental, bruxaria e satanismo.
Em 2013, a Exodus Internacional comunicou seu fechamento nos Estados Unidos. Alan Chambers, ex-presidente da organização norte-americana, pediu perdão à comunidade LGBTQI+ “por anos de sofrimento indevido e julgamento nas mãos da organização e da igreja como um todo”. E admitiu: “nós machucamos pessoas”.