Uma foto do casamento da filha do Secretário de Assuntos Fundiários do governo Bolsonaro, Luiz Antonio Nabhan Garcia, que ocorreu em fevereiro de 2022, trouxe à tona um fato histórico dos conflitos entre ruralistas e o Movimento Sem Terra (MST) no Oeste Paulista na década de 1990.

O padrinho de batismo da noiva, Marco Antonio Fogolin, foi delegado em Sandovalina (SP) e era conhecido como “caçador de sem terra”. No Instagram, ele postou uma foto acompanhada de um texto revelador sobre sua amizade com Nabhan, que liderou a União Democrática Ruralista (UDR) na região do Pontal do Paranapanema.

“Um pouco da minha história como Delegado de Polícia na década de 1990 tem esses caras em capítulos importantes. Luiz Antônio Nabhan Garcia e os irmãos Maurício e Rafael, e o parceiro Ricardo foram e são aquelas pessoas inesquecíveis.(...)  Desde então, a amizade prevalece. Obrigado Nabhan, Rafael, Mauricio e Ricardo, pela nossa amizade de décadas.”

Marco Antonio Fogolin

A celebração aconteceu no dia 12 de fevereiro, na luxuosa fazenda Santa Bárbara, em Itatiba, a 82 quilômetros da capital paulista. O espaço já foi escolhido para o casamento de famosos como o cantor Junior Lima — filho do cantor sertanejo Xororó — com a modelo e artista plástica Mônica Benini, em 2014. Conforme apurou a Agência Pública, o aluguel do espaço em fevereiro custava R$ 44 mil.

Atualmente empresário e professor de tiro na academia da Polícia Civil de São Paulo, o delegado aposentado Marco Antonio Fogolin virou notícia, em 1995, aos 25 anos de idade e seis de profissão, ao pedir a prisão preventiva das lideranças do MST do Pontal do Paranapanema.

Em fevereiro daquele ano, veio a público uma gravação feita pelo advogado do MST, Juvelino Strozake, na qual Fogolin propõe a ele trocar a libertação de quatro sem-terras pela rendição do mais importante líder do movimento na região, José Rainha Júnior.

O MST chegou ao Pontal do Paranapanema em 1990 com objetivo de pressionar o poder público pela reforma agrária, uma vez que a região é formada por aproximadamente 1,2 milhão de hectares ocupados irregularmente por grileiros.

Foto: Arquivo MST

Na intenção de contrapor o crescimento do movimento, em 1995, os fazendeiros se reorganizaram na UDR, que até então existia sem muita relevância. O período de retomada da organização ruralista —  fundada em 1985 em resposta ao surgimento do MST —  coincide com as ações de repressão de Marco Antonio Fogolin contra os sem-terra.

Foto: Adalmir Leonídio/CC

“Além de instaurar inquéritos sistematicamente contra sem-terras, ele tinha uma outra forma de agir, que consistia em tentar persuadir alguns membros do movimento a se voltarem contra os colegas e entregá-los”

Adalmir Leonídio, historiador.

“Ele [Fogolin] defende que os fazendeiros agiam corretamente, que as armas que eles possuíam eram armas legais, que eles estavam no direito deles, que nunca viu eles cometerem nenhum tipo de violência, que eles eram pessoas que estavam ali só com a intenção de proteger sua propriedade, que nunca foram violentos ou truculentos”, destaca Leonídio.

REPRODUÇÃO/ Jornal Estado de SP 2003