Quando a escola de samba Acadêmicos da Grande Rio foi sagrada campeã do Carnaval do Rio de Janeiro com um enredo que exaltou Exu, um dos principais orixás do candomblé e da umbanda, o babalorixá Sidnei Nogueira celebrou com seus milhares de seguidores do Instagram. “O carnaval deste ano foi uma resposta contra o racismo religioso”, postou.

Foto Gabriel Monteiro - RioTur

Evangélicos que não são meus seguidores vieram me atacar por mensagens privadas. ‘Tá repreendido em nome de Jesus’, ‘Você vai morrer’, disseram. Uma pessoa chegou a falar que eu tenho sangue nas mãos. Que eu matei a menina que morreu em um acidente com um carro alegórico.

Babalorixá Sidnei Nogueira

Assim como ele, outras lideranças de religiões de matriz africana relataram ataques virtuais desde o desfile da Grande Rio, que pretendia desmistificar a imagem da divindade africana, demonizada por grupos fundamentalistas cristãos no Brasil.

Foto Gabriel Monteiro - RioTur

Sidnei diz que  houve ataques de influencers, políticos e cantores gospel e defende que  pessoas com influência sejam penalizadas por discurso de ódio- ou, no mínimo, que elas tenham que se retratar Confira alguns trechos da entrevista:

Foto: Gui Christ

Quem que chega no Brasil para colonizá-lo? O Deus cristão e a lei europeia, portanto nós precisamos entender que o Brasil não é laico.  O outro fator tem a ver com o projeto político de poder. Em toda a história do Brasil, a política sempre se serviu de um discurso maniqueísta, ou seja, do bem contra o mal.

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Quando os colonizadores chegam no continente africano e não encontram o demônio deles, eles precisam substituir, e encontrar esse demônio cristão. Aí eles pegam aquela divindade, que é a liberdade, a palavra, a comunicação, o prazer, [...] e a revestem como se ela fosse o demônio.

Toda essa perseguição é uma perseguição racista, em primeiro lugar. O racismo não é só ferramenta do capitalismo, o racismo é ferramenta das religiões hegemônicas. Para eles, o demônio não é branco, o demônio é preto.

Foto Gabriel Monteiro - RioTur

É preciso que o cristianismo no Brasil, que as religiões hegemônicas no Brasil, façam imediatamente uma autocrítica. Isso não pode continuar. Eu sou uma liderança de terreiro, eu tenho legitimidade para falar: não conheço o demônio. Não faz parte da minha cultura religiosa. Exu não é o demônio, nem Cristão.

Foto Gabriel Monteiro - RioTur

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e leia a entrevista na íntegra.