Sentindo na pele os efeitos mais severos de um planeta mais quente, ativistas das periferias brasileiras têm se articulado para se fazer ouvir no debate climático nacional e mundial.

Praticamente metade da população mundial – de 3,3 bilhões a 3,6 bilhões de pessoas – já vive em regiões ou contextos “altamente vulneráveis” aos impactos da mudança do clima.

Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

A vulnerabilidade climática é maior em áreas pobres, com desafios de governança e acesso limitado a serviços e recursos básicos, agravando-se ainda mais por desigualdades de raça, renda e gênero.

Nas cidades do Brasil e do mundo, as populações de periferias e favelas formam a linha de frente da crise do clima.

Amanda, de 25 anos, nasceu, cresceu e vive na Brasilândia, no extremo norte da capital paulista. Formada em Relações Internacionais, começou sua trajetória de ativismo climático aos 21 anos na ONG Engajamundo, que atua preparando lideranças jovens para participar de processos políticos internacionais, como as COPs do clima.

Vendo tudo isso acontecer no lugar onde vive, Amanda ajudou a fundar, em 2019, o Instituto Perifa Sustentável, cujo objetivo é mobilizar as juventudes das periferias do país a pensar soluções para problemas climáticos e ambientais em seus próprios territórios.

A bióloga maranhense Karina Penha, de 26 anos, acredita que a inclusão das periferias no debate climático só acontecerá pelas mãos de quem entende de verdade esse contexto.

O que eu observava antes de discutir justiça climática eram pessoas que sempre foram marginalizadas se tornando culpadas pela crise do clima.

A pessoa que andou de ônibus a vida inteira e quer comprar um carro quando tem condição se sentindo culpada. 

Karina Penha, 26 anos, ativista e bióloga maranhense

Por isso, para mim, faz muito sentido a justiça climática: não existe uma fórmula correta, existe você debater com as comunidades, entender seu estilo de vida

e começar a cobrar quem de fato está sendo o mais culpado por aquilo, que são as indústrias, o governo, o sistema.

Karina Penha, 26 anos, ativista e bióloga maranhense

Mestre em Geografia, Ana Rosa, de Icoaraci, em Belém, diz que “ser um ativista periférico envolve coragem e enfrentamento” pela necessidade de se afirmar a todo momento para se fazer ouvir em espaços ainda ocupados majoritariamente por pessoas brancas.

Para ela, é ineficaz discutir estratégias de adaptação urbana aos efeitos do aquecimento global apenas pelo ângulo da tecnologia, sem contemplar os recortes de raça, classe social e gênero, que incorporam as demandas e necessidades das periferias.

A favela ensina. Basta olhar, se envolver e investir, que as soluções vão surgindo cada vez mais fortes.

Raull Santiago, 33 anos, ativista e empreendedor social, morador do Complexo do Alemão,  na zona norte  do Rio de Janeiro.

Com a militância coletiva, Raull espera facilitar o cruzamento de caminhos entre as vivências e saberes periféricos sobre mudanças climáticas, o conhecimento científico e os espaços de tomada de decisão da agenda.

“É preciso semear para florescer, apesar da urgência”