Exposição a agrotóxicos traz sofrimento mental e esgotamento de famílias agricultoras que garantem ao país a liderança mundial no mercado de exportação de fumo.
Lídia Maria Bandacheski do Prado plantou fumo dos 9 anos até o dia em que sentiu seu corpo paralisar e precisou ser carregada às pressas da lavoura para o hospital. Tinha 39 anos quando um médico lhe disse: “Você não tem mais jeito: está inválida para trabalhar”.
Lídia desenvolveu uma polineuropatia, doença nos nervos dos braços e pernas, causada pela exposição continuada a agrotóxicos organofosforados — apontam laudos médicos. “Se eu tivesse informação, poderia decidir: vou fazer isso ou não. Mas me negaram a informação. Se eu soubesse o que o agrotóxico faria, eu teria alguma escolha. Mas não tive”, diz.
Uma pesquisa publicada em 2017 por profissionais da Secretaria de Saúde do Paraná, em Rio Azul, identificou transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade e polineuropatia em agricultores que haviam sofrido intoxicações por agrotóxicos.
“A utilização prolongada de diferentes agrotóxicos pode ocasionar neuropatias tardias, síndromes neurocomportamentais e distúrbios neuropsiquiátricos, com alta incidência de suicídio (...).”
Durante a colheita, que geralmente ocorre no verão, sob altas temperaturas, o suor contribui para que a pele absorva grandes quantidades de nicotina das folhas do tabaco. Com a substância no corpo, os fumicultores sentem o que chamam de “porre do fumo”: enjoo, fraqueza, tonturas, insônia e pesadelos.
Uma pesquisa pioneira, publicada em 1996, analisou os altos indíces de suicídio em Venâncio Aires (RS) e a utilização de agrotóxicos organofosforados na região. A pesquisa apontou que, em 1995, o coeficiente de suicídio quase duplicou em relação aos dois anos anteriores.
Isso aconteceu paralelamente à intensificação do uso de agrotóxicos nas lavouras de tabaco, que havia passado dos habituais 50 kg por hectare para quase 100 kg devido ao aumento na infestação de pragas naquele ano.
Em uma reportagem, a Pública revelou que, na última década, 1.569 pessoas tiraram a própria vida usando pesticidas. “A situação que vemos é a seguinte: o agrotóxico provoca a depressão e também te dá o instrumento para o autoextermínio”.
Ofertar possibilidades de diversificação de cultivo e renda para fumicultores é um compromisso que o Brasil assumiu quando ratificou a Convenção Quadro para o Controle de Tabaco em 2005, mas a política não saiu efetivamente do papel.
A Pública investigou essa e outras histórias de famílias produtoras de tabaco.