Quem busca por “aquecimento global” no YouTube recebe como retorno vídeos negacionistas e desinformativos sobre a mudança climática, mesmo que o tema já seja consenso entre cientistas da área e a própria plataforma já reconheça que as atividades humanas contribuem para o fenômeno.

A reportagem da Pública simulou uma busca na plataforma por meio da ferramenta YouTube Data Tools e obteve dados diretamente do algoritmo de recomendação da rede. Dos 121 vídeos analisados, 37 apresentaram informações que contradizem o consenso científico sobre as mudanças climáticas potencializadas pela ação humana, o que representa 30,5% da amostra.

Destes, ao menos 15 vídeos são monetizados, ou seja, geram dinheiro para seus publicadores e para o YouTube por meio da disseminação de mentiras sobre o clima.

Boa parte do conteúdo que nega a existência do aquecimento global é respaldado pelos argumentos de dois cientistas, Ricardo Felício e Luiz Carlos Molion, que aparecem em 70% dos vídeos negacionistas da amostra. Os dois pesquisadores que contradizem a ciência já foram financiados pelo agronegócio brasileiro.

Reprodução: Youtube

De acordo com as próprias regras do YouTube, esses conteúdos não deveriam enriquecer seus produtores. Em 2020, a ONG Avaaz solicitou à plataforma que deixasse de recomendar conteúdos “tóxicos” e barrasse a monetização dos vídeos ligados ao negacionismo climático.

Mas em 2021, a rede se comprometeu apenas com uma das reivindicações e proibiu a monetização de conteúdo e anúncios que “contradizem o consenso científico sobre a existência e as causas das mudanças climáticas”.

No YouTube, a contestação do consenso científico acerca da influência humana na intensificação do aquecimento global não está somente em canais de influenciadores de extrema direita ou pesquisadores abertamente negacionistas.

Três dos vídeos que tratam da questão como se ainda fosse um tema em debate — o que é falso —  são do Senado Federal, cujo canal não é monetizado. Os conteúdos figuram também entre as indicações da plataforma para quem quer saber mais sobre o tema.

A TV Senado e a TV Brasil, também financiada com dinheiro público, mantém em seu perfil uma série de três vídeos que propagam informações que se chocam com o consenso científico e criam a sensação de que existe um debate sobre o aquecimento global e suas causas. Ambos os canais não são monetizados.

Quatro meses depois do anúncio das novas políticas do Youtube sobre mudanças climáticas, o cientista Ricardo Felício parou de publicar em seu canal no YouTube. 

Felício acusou o site de censura e convidou seus seguidores a se inscreverem em um novo canal enquanto busca outra alternativa. A migração para redes com menos monitoramento é comum entre aqueles retirados de plataformas tradicionais.

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