Sempre vigiados

Depoimento de Célio Viana

Em março de 2014, a três meses do início da Copa do Mundo, Célio tomou a linha de frente de uma greve orquestrada por trabalhadores da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB) que pedia melhores condições de trabalho para os garis do Rio de Janeiro. A paralisação, que durou apenas 8 dias, conseguiu causar um impacto na vida de Célio, que diz ter sido ameaçado e perseguido por agentes da Prefeitura enquanto participava de atos durante a greve.

Depoimento de Elisa Quadros

A ativista conhecida nacionalmente como “Sininho” carrega ainda hoje marcas de sua atuação nas manifestações de 2013. Durante esse período, ela foi taxada como articuladora da tática “Black Block”. Hoje, a ex-produtora de cinema continua respondendo por um processo que acusa 23 ativistas de associação criminosa. Elisa diz ter sofrido perseguições por parte da polícia, e ainda atribui boa parte do trauma que sofreu à própria imprensa, que a transformou em uma figura midiática.

Depoimento de Jane Nascimento

Atuante na luta contra a remoção da comunidade da Vila Autódromo na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Jane Nascimento diz ter sofrido pressão psicológica para sair do seu imóvel. Segundo ela, a prefeitura e as empreiteiras responsáveis pela obras que ergueram o Parque Olímpico próximo ao terreno onde ficava a sua casa estavam monitorando a ela e à sua família. As perseguições continuam assombrando Jane, que hoje, com 60 anos de idade, diz ainda viver com a suspeita de que está sendo vigiada.

Depoimento de Marcia Jacinto

O dia 21 de novembro de 2002 mudou para sempre a vida da então dona de casa, quando seu filho Hanry Silva Gomes da Siqueira, de 16 anos, foi assassinado à queima roupa pela Policia Militar no Morro do Gambá, zona norte do Rio de Janeiro. Apesar de ter conseguido condenar dois dos policias responsáveis pela morte de seu filho, Márcia diz ter pagado um preço alto pela Justiça. Ela conta que foi perseguida, vigiada e grampeada pela polícia, e que continua vivendo à sombra do medo.

Depoimento de Michele Lacerda

Sobrinha do pedreiro Amarildo Dias de Souza, que desapareceu em julho de 2013 na favela da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro, Michele tomou a frente da campanha “Cadê o Amarildo?”. À medida que a luta pela busca do corpo do seu tio tomava proporções internacionais, Michele diz ter sofrido perseguições intensas por parte da PM-RJ. Vozes de terceiros interceptavam as suas ligações e policiais vestidos de civis a seguiam em atos. Essas e outras histórias se tornaram comuns no dia a dia de Michele e sua família.

Respostas

  1. Matéria muito interessante. É legal ter esse lado da história contado abertamente, acho muito legal quando a fonte se expõe. Assisti um doc sobre o mesmo tema, só que com as famílias da chacina em Belém do Pará em 2013/14, por aí, após a morte de um PM, um comandante anunciou via facebook que estavam partindo pra fazer a “limpeza” e oficialmente foram 13 jovens mortos pelas periferias da cidade, mas o número é bem maior e as mães, tios, irmãos, filhos montaram um movimento e vão pra rua e já teve mãe que acabou perdendo o outro filho porque polícia matou, e teve frente do movimento que é perseguida até por dar entrevista. É complicado, mas tá em todo lugar mesmo, foda. Violência policial + essa aceitação social de bandido bom é bandido morto tá dando um ibope do caramba pra polícia montar grupo de extermínio desde sempre, uns resquícios de ditadura mesmo, bem assustador

  2. Matéria muito legal, no formato. Mas, ser a quê? A quem?
    Serve ao medo. No mais, a policia no RJ passa por uma devassa.

  3. A imensa maioria dos depoimentos são de negros. Este país vive realmente uma limpeza étnica. É uma guerra entre pobres, a polícia, na escala econômica, não faz parte da elite, procede da mesma classe social que a maioria das vítimas, mas defende a elite. Tenho pensado que neste país há uma negação constante da identidade somada ao medo. A classe média baixa têm medo a descender ao escalão da pobreza, a classe média tem horror a descer do seu status e gasta uma energia enorme se mostrando na vetrine, obsecada por sr chique. O policia bate no professor provavelmente o professor de seu filho. Tudo banhado por uma violência assustadora, física e verbal. enquanto isso o Brasil vai perdendo o essencial e o diferencial da sua identidade, a matriz negra e índigena.

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