Agência Pública

Americanos observam crescimento da classe média brasileira

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Mensagens do consulado americano em São Paulo abordam a ascensão social e o maior poder de compra da classe C brasileira. “Traçar uma definição geral da classe C do Brasil é difícil. Classe C é frequentemente referida a uma “camada” da classe média”, explica um telegrama de 2006. Esta mensagem aponta um crescimento de 7% de famílias na classe média baixa brasileira entre 2001 e 2006.

Três anos depois, um despacho de 27 de outubro de 2009 confirma a tendência de 2006. Desta vez, são apresentados dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que mostram uma expansão de 29% da Classe C em 7 anos, que então já abarcava 50% da população. “Durante os cinco anos entre 2003 e 2008, a quantidade de pessoas miseráveis caiu quase 19,5 milhões e a quantidade no segmento pobre caiu 1,5 milhão”, apresenta o telegrama que sublinha o sucesso do Brasil em atingir a Meta de Desenvolvimento do Milênio de diminuir pela metade o número de empobrecidos dez anos antes do prazo, que era 2015.

Em conversa com diplomatas, o professor Marcelo Cortes Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV, explicou que as razões para a diminuição da desigualdade eram o aumento geral do rendimento dos trabalhadores, programas sociais como o Bolsa Família e o aumento no salário mínimo. “Suas pesquisas sugerem que a redução na desigualdade possa ser atribuída precisamente da seguinte maneira – 67% por conta aumento no ganho dos trabalhadores desde 2001, 17% via programas sociais e 15% devido o aumento do salário mínimo”, explica o telegrama.

Os diplomatas americanos também observam a mudança nos hábitos de consumo da Classe C. Em 2006, eles notam que estes brasileiros têm preferido comprar bens como televisões, celulares, computadores e aparelhos de DVD a poupar para comprar “um lar dos sonhos”. “Se a tendência econômica favorável continuar, companhias multinacionais podem achar na classe trabalhadora/média do Brasil um segmento altamente atrativo para marketing mais agressivo e desenvolvimento de produtos”, sugerem os diplomatas.

A influência política das mudanças é discutida em ambas as mensagens. Na primeira, o peso que os brasileiros emergentes teriam na eleição de 2006. “A questão crítica é se, dada a mudaça nos hábitos de consumo, tais eleitores considerem-se melhor com Lula, ou se Alckmin pode convencê-los que suas políticas econômicas são mais apropriadas para gerar estabilidade e prosperidade para a Classe C”, argumenta o telegrama. Na mensagem de 2009, as mudanças – somadas à alta popularidade de Lula – são reconhecidas como fatores potenciais da campanha de Dilma Rousseff.

Educação: a fronteira final

Apesar do tom otimista das mensagens, muitos especialistas procurados pelos diplomatas expressaram preocupação principalmente com a educação no país. André Portela, professor da Escola de Economia da FGV, explicou a diplomatas que a redução na pobreza iria diminuir com o tempo e um núcleo do segmento estaria impedido de avançar. “Portela disse que a desaceleração [no combate à pobreza] virá primeiramente como resultado da falta de oportunidades de educação de qualidade para os brasileiros mais pobres”, relata o telegrama.

A mesma atenção é citada por pesquisadores de órgãos de pesquisa oficiais, como o diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ricardo Paes de Barros. “Barros lamentou ao representante econômico que as tentativas do governo brasileiro de qualificar seus professores e aumentar seus salários,além de instalar computadores em escolas, ainda não resultaram em um sistema escolar de melhor qualidade”, cita a mensagem.

Os documentos são parte de 2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda inéditos, que foram analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo publicados nesta semana pela agência Pública. LEIA MAIS

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