Rands derrapa ao falar sobre equilíbrio financeiro do Diario de Pernambuco

Consultamos o balanço contábil, os registros de uma audiência do MPT e falamos até com o presidente da empresa para verificar se o jornal, que tem o candidato do Pros como um de seus sócios, continua em crise

Imprensa

Raíssa Ebrahim
7 minutos

O Diario de Pernambuco está aí se recuperando” – Maurício Rands (PROS), em entrevista ao portal OP9 no dia 14 de agosto

Menos de cinco meses depois de o mais antigo jornal em circulação da América Latina ter demitido 38 jornalistas e oito funcionários do setor administrativo, em função de uma declarada profunda crise financeira, o candidato ao governo de Pernambuco Maurício Rands (PROS) disse, em entrevista ao Portal OP9, que o Diario de Pernambuco, pertencente ao Grupo R2, estaria se recuperando e já seria uma empresa “mais ou menos equilibrada”. Rands deixou o conselho editorial do jornal, mas é atualmente sócio minoritário do negócio, como ele mesmo enfatizou durante a entrevista.

O Truco nos Estados – projeto de fact-checking da Agência Pública, feito em Pernambuco em parceria com a Marco Zero Conteúdo – checou tal a afirmação e encontrou um cenário trabalhista e contábil, baseado no balanço de 2017, com resultados piores que os de 2016. Por isso, o selo atribuído pelo Truco é “Falso”.

O ponto de partida da checagem foi primeiramente, conforme a metodologia do projeto, perguntar à assessoria de imprensa de Rands em que dados o candidato da coligação O Pernambuco que você quer (PROS, PDT, Avante) se baseou para dar a declaração.

A resposta se restringiu a dizer que Rands, que é advogado (já tendo atuado na área trabalhista), PhD pela Universidade Oxford, professor de direito da UFPE, “utilizou dados públicos e notórios para dar a declaração a respeito do momento em que o Diario de Pernambuco se encontra”.

O Truco então foi atrás de informações e encontrou a continuidade de uma série de irregularidades trabalhistas e o mais recente balanço empresarial, de 2017, que mostra, quando comparado ao ano anterior, um crescimento do prejuízo do jornal fundado em 1825, o mais antigo em circulação na América Latina.

Cenário trabalhista

De acordo com o sindicato dos jornalistas em Pernambuco (Sinjope), na última sexta, 17 de agosto, ainda faltava os funcionários do jornal receberem 35% do valor da primeira quinzena, que deveria ter entrado integralmente na conta no dia 6. O Sinjope continua denunciando as irregularidades e diz que os atrasos, que tiveram início há dois anos, não foram revertidos. Há ação civil pública no Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre isso.

O pessoal que foi demitido no fim de março continua sem receber as verbas de rescisão contratual e tendo que buscar os direitos na Justiça. Diversos funcionários e ex-funcionários ouvidos pela reportagem, além do Sinjope, também afirmaram que regularmente a empresa tem deixado de recolher o FGTS.

Em março deste ano, durante uma audiência no MPT, o presidente do Diario de Pernambuco desde 2015, Alexandre Rands (irmão de Maurício Rands), do Grupo R2, apresentou algumas opções aos jornalistas e ao sindicato, na tentativa de salvar a empresa da crise que se acentuou no ano passado. Em 2015, a empresa foi vendida pelos Diários Associados ao Sistema Opinião de Comunicação, pertencente ao grupo Hapvida. Ainda no mesmo ano, Alexandre Rands assumiu o controle do Diario com 78% das ações.

“Ou a gente quebra, ou a gente corta”, disse Alexandre na época. Durante a audiência, ele também declarou que não possuía recursos financeiros para pagar o total das rescisões contratuais, oferecendo o parcelamento em até 18 meses.

Alexandre afirmou ainda estar “totalmente arrependido” de ter entrado no negócio, no qual já teria colocado mais de R$ 20 milhões do próprio bolso. Na época em que o Grupo R2 assumiu o Diario, iniciou-se um plano de recuperação baseado no enxugamento de 38% dos custos e manutenção dos ganhos.

O presidente falou em dívidas também de energia, de papel e de tinta e atribuiu parte do prejuízo ao calote de fornecedores públicos. No ano passado, o governo do estado teria deixado de pagar R$ 6 milhões ao Diario. O governo federal, por sua vez, estaria no mesmo movimento, teria um débito de R$ 700 mil. Esses são dados ditos por Alexandre durante a audiência, há alguns meses.

“Não temos dinheiro para pagar as verbas rescisórias, cuja soma é de R$ 3,5 milhões (caso a opção escolhida pelos jornalistas fossem as demissões, na época cerca de 30)”, enfatizou o presidente da empresa no Ministério Público do Trabalho. No caso do fechamento do jornal, o montante das rescisões seria de R$ 11 milhões.      

Menos de um mês depois, vieram as os desligamentos, num número maior que o previsto: 38 pessoas da redação mais oito funcionários do administrativo.

Balanço

Olhando para o balanço empresarial do Diario em 2017 —  o mais recente disponível — vê-se um prejuízo de patrimônio líquido de R$ 20,14 milhões, um resultado pior do que o prejuízo apresentado em 2016 (R$ 13,20 milhões).

O resultado líquido do exercício do ano passado, que leva em consideração as receitas e as despesas, fechou em R$ 6,33 milhões negativos. A receita líquida de vendas havia sido de R$ 29,15 milhões, mas os custos foram de R$ 29,13 milhões. Daí um lucro bruto no ano de apenas R$ 20,99 mil, deduzindo-se desse valor as demais despesas, com destaque a para as administrativas (R$ 5,87 milhões).

O valor de empréstimos mútuos (entre partes do grupo empresarial) também teve uma alta expressiva entre 2016 e 2017, de R$ 1,57 milhão para R$ 13,57 milhões. Olhando para o montante de duplicatas a receber, de um ano para o outro, o valor foi de R$ 3,95 milhões para R$ 14,61 milhões.

O que diz o Diario de Pernambuco

O Truco conversou diretamente, por telefone, com o presidente do Diario de Pernambuco e irmão do candidato do PROS, Alexandre Rands, para ouvir o posicionamento oficial da empresa. O empresário e economista declarou que, desde a audiência pública no MPT, em março, o cenário havia mudado. Ele afirmou que os cortes recentes e o pagamento de boa parte da dívida de cerca de R$ 6 milhões do governo do estado levaram o jornal a ser agora uma “empresa equilibrada e correndo atrás de receita”.

“São as últimas dívidas trabalhistas”, garantiu Alexandre sobre as 38 demissões do primeiro semestre, justificando que “essas dívidas só ficaram porque o que o governo devia a gente em dezembro só foi liberado a conta-gotas este ano”. “O que o governo devia, a gente terminou tendo que cobrir o rombo mensal”, defendeu.

“Em todas as minhas empresas eu paguei as dívidas e vou pagar dessa vez. Nós trabalhamos todos os dias para manter um patrimônio de Pernambuco”, garantiu o presidente. Questionado, Alexandre disse que não tinha como dar previsões sobre as datas de pagamento. Mas adiantou que o jornal deve continuar no negativo no fechamento de 2018, apesar da expectativa de um volume menor de prejuízo. “O jornal não tem a mínima condição de gerar um lucro (este ano) para cobrir esse rombo”, disse se referindo ao balanço de 2017.

Após ouvir o presidente da empresa, o Truco mantém o selo “Falso”, pois claramente Alexandre afirma que as despesas continuam maiores que as receitas, confirmando o que já havia sido apurado. Apesar de declarar que o cenário mudou nos últimos meses, na prática a empresa ainda não consegue prever quando conseguirá sanar as dívidas trabalhistas e diz que continuará com um balanço negativo no fechamento de 2018.

Procurado para comentar o selo recebido, Maurício Rands  respondeu assim:

“Equilibrando é gerúndio. A recuperação de uma empresa é um processo complexo e não pode ser avaliado por critérios objetivos defasados. O Diario de Pernambuco era uma empresa destinada a fechar suas portas, conseguiu a proeza de sobreviver preservando centenas de empregos e encontra-se em processo de ajustamento à realidade do mercado editorial. A empresa, apesar das dificuldades, não cogita encerrar suas atividade e está caminhando, passo a passo, no sentido de reocupar o seu lugar, de acordo com as mencionadas circunstâncias do mercado editorial brasileiro, inclusive, expandindo suas atividades na área digital.”

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