Davi Paiva, jornalista e filho de caiçaras, é uma das lideranças do município de Trindade, vizinho a Paraty. Segundo ele, nos anos 1970 o Condomínio Laranjeiras, na época representado pelas multinacionais Brascan e Adela, queria estender seus domínios até Trindade. “Jagunços armados exigiam a saída das famílias de Trindade, mas uma parte delas permaneceu apesar de tudo”, conta.
Em Trindade, as multinacionais os pressionaram durante nove anos, até 1982, quando venderam suas terras à empresa hoje conhecida como Trindade Desenvolvimento Territorial, a TDT. Segundo Davi, a empresa chegou a um acordo muito criticado com os caiçaras: daria lotes para abrigar apenas 42 famílias. Desde então, a TDT mantém a propriedade intocada, visando à especulação imobiliária.
Agora, mais do nunca, aquelas terras desertas de gente causam revolta. Isso porque um jovem caiçara, Jaílson Caíque Sampaio, de 23 anos, foi morto a tiros por um policial devido à disputa de terra. “Toda comunidade trindadeira sabe que os dois policiais trabalhavam para a TDT. Ele foi morto em sua própria casa”. Os PMs teriam chegado à paisana à casa onde morava com o irmão e exigido que os dois saíssem da terra da empresa, segundo o irmão testemunhou.
Após o crime, os policiais se entregaram à delegacia alegando legítima defesa. “Os dois policiais disseram que a terra de Jaílson, que faz fronteira com as da TDT, pertencem à própria TDT. E queriam expulsá-lo dali”, contou Davi. Moradores chegaram a fazer diversos protestos, entre eles destruíram alojamentos da TDT.
Os dois policiais, investigados pela 167ª Delegacia Policial, estão respondendo ao processo em liberdade. Os conflitos de terra em Trindade se acirraram desde então. Nada menos de 800 hectares são alvo de disputas entre os empresários que querem vender terrenos para usos turísticos e os caiçaras.