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Rolê nas ruas VIP

A reportagem da Pública foi verificar como ruas fechadas e com cabines e cancelas na zona sul manobram seus procedimentos diante desse vácuo.

O “passeio” começou no bairro do Humaitá, na rua Miguel Pereira. Nela, uma placa na cancela ordena: “Identifique-se”. Um cartaz acima da placa insiste: “Solicitamos que abra a janela [do veículo] e identifique-se”. Quando um carro desconhecido se aproxima, um dos seguranças sempre pede ao motorista que abaixe o vidro.

De forma transparente, os seguranças ali relataram que não usam armas e seus ganhos financeiros são por intermédio de uma relação bem informal de trabalho: sem carteira assinada e sem dar nota como empresa. “Estamos aqui há mais de 15 anos e sempre trabalhamos dessa forma”, disse um deles, sem se identificar.

A rua Leblon, no bairro do Leblon, apresenta outra distinção. Não é uma rua sem saída. A via é fechada com dois portões, um em cada extremo do caminho. Nelas, há sempre um segurança armado.

Em 2005, moradores do bairro chegaram a fazer um protesto contra a privatização de uma rua que dá acesso à praia. Mas o grupo que queria o fechamento ganhou: impetraram dois mandados de segurança contra a prefeitura e, em 1993, obtiveram no Tribunal de Justiça do Rio o direito de se trancar em relação ao bairro, com portões e seguranças armados. Ela é a única das 16 vias de acesso à praia com aparato de segurança próprio, criando uma fortificação em um dos bairros mais policiados do Rio.

Rua do Leblon: de acesso à praia à fortificação armada (foto: Fagner França/Agência Pública)

No Jardim Pernambuco, também no Leblon, mansões saltam aos olhos. Os moradores ali chamam o lugar de condomínio, mas as ruas são liberadas a pedestres e carros “estrangeiros”, como se referem a não moradores. A área é de gente famosa, como o economista Armínio Fraga e Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, proibido de deixar o país por suspeita de compra de votos para o Rio receber a Olimpíada de 2016. Pode-se dizer que ali é um jardim de seguranças por todos os lados, e quatro cancelas. Ao ser indagado sobre se os vigilantes ali tinham arma, o supervisor da empresa de segurança, Luciano Costa, disse que não responderia à pergunta. Mas, andando a pé por ali, dá para ver gente da empresa com arma na cintura.

Jardim Pernambuco: seguranças armados e isolamento do bairro (foto: Fagner França/Agência Pública)

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