O que te levou a protocolar esse pedido?
De fato, como cidadão brasileiro e pessoa envolvida nos movimentos sociais e sindicais, me vi na obrigação de dar uma contribuição. Muitas atrocidades estão sendo cometidas no atual governo, principalmente agora no início do ano de 2020. Minha contribuição veio, é claro, obedecendo todos os requisitos da lei, já que estou quite com a legislação eleitoral.
Em algum outro momento, com outro presidente, você considerou o impeachment como uma saída?
Não. Acredito que não, porque apesar de entender que nós tivemos presidentes como Lula e Dilma, com alguns ataques contra a classe trabalhadora, como a retirada de direitos, nunca nós tivemos ataques tão frontais como agora. Ataques frontais à democracia, às instituições e ao Estado Democrático, como o presidente saudar o regime militar; e ataques à imprensa, como os insultos às jornalistas Vera Magalhães [do Estado de S Paulo] e Patrícia de Campos Mello [da Folha de S Paulo].
Quais foram os crimes cometidos por Bolsonaro, na sua opinião?
Um cidadão comum ou uma pessoa do povo pode até entender que o Regime Militar deve voltar, deve ser restabelecido no nosso país. Agora quando isso acontece e é publicizado por um Presidente da República não é aceitável. Ele, na condição de presidente, jamais pode saudar a volta do Regime Militar. Aí é um dos, mas são vários crimes. Ataque à imprensa também fere os princípios constitucionais do nosso país e ataques às instituições, como o Congresso e o STF, também são ataques à Constituição.
Todos esses crimes são passíveis de impeachment, então desde que seja comprovado com todo o processo legal, o presidente pode ser retirado do cargo e perder os seus direitos políticos.
Outro exemplo, agora relacionado aos tempos de pandemia. A partir do dia 15 de março deste ano aconteceram vários atos promovidos pelos apoiadores do Bolsonaro. Em tempos de pandemia isso já se configura como um crime contra a saúde pública, art. 268 do Código Penal, só que pelo fato do Presidente da República incentivar isso tem um peso maior, e entra também dentro dos crimes de responsabilidade. Isso prejudica de forma decisiva a questão social do nosso país, porque quando você instiga esses atos em tempo de pandemia você gera um caos social, aumenta de forma gradativa o avanço da COVID.
O impeachment é a melhor saída no momento?
É a melhor saída. Apesar de traumático, o impeachment é essencial para que esse monstro saia da Presidência da República. É inadmissível um presidente ter a postura dele, o que ele faz durante todo esse tempo é uma afronta à Constituição, às mulheres, enfim, é uma coisa ridícula. Então nesse momento, apesar de muito traumático, eu vejo como a saída jurídica, democrática e constitucional. Não tem outra.
Na minha avaliação como pessoa que é do movimento, eu acho que se nós estivéssemos em um momento normal do país, sem essa pandemia, ele já teria caído. Porque eu não tenho a menor dúvida de que a pressão popular estaria acontecendo. A pressão popular é o que de fato derruba um presidente. São as pessoas na rua cobrando a saída imediata. Mas nesse momento nós não podemos fazer isso, não tem como as pessoas estarem mobilizadas durante a pandemia.
Na minha avaliação, o que ainda sustenta o Bolsonaro é isso, já que ele não tem condições políticas de governar um país.
Tem também os militares, que também vem segurando o Bolsonaro, aceitando as maluquices dele, e agora apoio do centrão. Na verdade, é a saída que o Bolsonaro encontrou já preocupado com um possível impeachment.