Marcelo Camargo/Agência Brasil

Pedido 0055

Proposta por

João Somariva Daniel, deputado federal (PT)

Em análise há 1713 dias

Art. 4º, 5º, 9º e 13º da Lei de Impeachment

O deputado federal, João Daniel (PT-SE) entrou no dia 22 de setembro de 2020 com pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. É a segunda acusação por crime de responsabilidade contra o chefe do Executivo protocolada pelo político, que também assina o pedido coletivo de impeachment do Partido dos Trabalhadores e outras 400 organizações sociais. 

“Os pedidos são diferentes entre si e continuaremos assinando quantos forem necessários”, defende o deputado, que admite, contudo que o impeachment não é a melhor saída para o país, defendendo que o ideal seria a renúncia do presidente.

Leia a entrevista na íntegra:

Por Ethel Rudnitzki

Deputado pede impeachment de Bolsonaro por reunião de Araújo com Mike Pompeu contra Venezuela
João Somariva Daniel, deputado federal (PT)
Por que o senhor decidiu entrar com esse pedido de impeachment? Está clara a relação ideológica entre o governo Bolsonaro e o governo Trump. O que deveria ser uma relação que beneficiasse o Brasil, na verdade está prejudicando. São várias as decisões norte-americanas que nos colocaram em desvantagem. A recente visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a Roraima, com agressões à Venezuela, fazendo coro com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é um crime de lesa-pátria! Ernesto Araújo cometeu crime de responsabilidade e infringiu vários regramentos constitucionais. Bolsonaro reafirmou esses atos ao não corrigi-lo. Portanto, também assina os malfeitos como corresponsável e esse pedido de impeachment cita todas as ilegalidades cometidas. Quais crimes foram cometidos pelos acusados, na sua opinião? Todos os artigos citados no pedido são: Prática dos Crimes de Responsabilidade, Atentado à Soberania Nacional e atentado aos princípios pelos quais o Brasil deve guiar suas relações internacionais, como independência nacional, autodeterminação dos povos, não-intervenção e defesa da paz, elencados na Constituição Federal. O senhor já assina um pedido de impeachment contra o presidente. Por que você decidiu entrar com outro?  Porque o governo Bolsonaro está, infelizmente, repleto de ilegalidades. A cada dia o presidente zomba das leis e na maioria das vezes ainda ironiza. Os pedidos são diferentes entre si e continuaremos assinando quantos forem necessários. Enquanto acharmos que há mérito em um pedido de impeachment, assinaremos. Além do seu pedido, outros 37 pedidos de impeachment contra Bolsonaro aguardam análise na Câmara. Por que o senhor acha que Rodrigo Maia está demorando tanto para analisar e pautar esses pedidos? O presidente Rodrigo Maia já afirmou algumas vezes que este é o momento de se preocupar com o país, no sentido de vencermos a pandemia. Na opinião dele, um conflito político, para tratar de um pedido de impeachment, dividiria o país e traria consequências negativas. Nós do PT não concordamos que a pandemia sirva de cheque em branco para que Bolsonaro agrida, ainda mais, o país, inclusive aumentando a crise na pandemia. Mas nosso mandato respeita a posição de Rodrigo Maia e espera que ele admita o mais rápido possível o rito deste ou de tantos outros pedidos com fortes embasamentos que há na Casa.   O impeachment é a melhor saída para o país nesse momento? Não. A melhor saída seria a renúncia do presidente, mas dificilmente ele admitiria estar no lugar errado, fazendo as coisas erradas. Ele é bastante teimoso. Sabemos do grau de fissura e trauma que um processo de impeachment causa no país, ainda mais em se tratando de uma jovem democracia. Impeachment não é vírgula e nem pode servir de “arma dos perdedores”, como foi contra a presidenta Dilma, um processo viciado e hipócrita do início ao fim, que serviu apenas para aqueles que queriam dar o golpe sob interesses escusos, como nos antecipou aquele infeliz áudio de Romero Jucá, insinuando que haveria o golpe articulado das forças ocultas contra nós “com o Supremo, com tudo”. Você acredita que haverá impeachment ainda esse ano? Não. Infelizmente o rito é demorado e poderia ser prejudicado com o recesso, talvez o carnaval, não sabemos ao certo como será a nova agenda pós-pandemia. Provavelmente haverá um novo presidente da Câmara, eleito pelas forças progressistas, e até o final do ano um novo presidente da República, eleito indiretamente, também pelas forças progressistas. Essa é a receita ideal para debelar a crise.

Resumo do pedido

O deputado federal João Somariva Daniel (PT-SE) protocolou no dia 22 de setembro de 2020 um pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ele acusa os políticos de atentarem contra soberania nacional ao manterem “relações ideológicas” com o governo norte-americano. 

O pedido começa com um trecho do poema “No Caminho com Maiakóvski”, de Eduardo Alves da Costa e, em uma breve introdução, discorre sobre o encontro do ministro Ernesto Araújo com o secretário de estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, na cidade de Boa Vista (RO). Na ocasião, os líderes trataram da questão da Venezuela e se colocaram em oposição ao regime de Nicolás Maduro no país. “Não devemos esquecer que ele está destruindo seu próprio país e também é um traficante de drogas. Está impactando na vida dos EUA. Mas vamos tirá-lo de lá”, afirmou Pompeu com a concordância de Araújo que disse que disse que regime de Nicolás Maduro deveria “desaparecer”.

A reunião foi repudiada por autoridades como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia e ex-ministros de Relações Exteriores do Brasil, como Fernando Henrique Cardoso, Celso Amorim e José Serra.

Para o proponente, “as ofensas proferidas contra a Venezuela pelo secretário de estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, bem como as do Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, simbolizam um eminente interesse, já manifesto, dos EUA pela invasão ao país vizinho.” Assim, representariam atentado à soberania nacional e iriam contra os princípios de Independência nacional; autodeterminação dos povos; Não intervenção e Defesa da Paz, preconizados pelo Art 1º da Constituição Federal. 

Para o proponente, “os Ministros de Estado são meros auxiliares do Presidente da República no exercício do Poder Executivo e na direção superior da Administração Federal” e por isso, Bolsonaro também deveria ser responsabilizado pelas infrações do ministro Ernesto Araújo, sendo juntamente acusado de crime de responsabilidade.

Como testemunhas para o processo, o deputado elenca os ex-ministros das Relações Exteriores Fernando Henrique Cardoso, Celso Lafer, José Francisco Rezek e José Serra; o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira, o ex-ministro da defesa Celso Amorim.

Avise o Congresso que você quer acompanhar essa proposta 207

Pedido 0055 na íntegra