O que motivou você a protocolar este pedido de impeachment somente agora, visto que você apresenta fatos de março de 2019 a janeiro de 2021?
Fiquei pensando como cidadão o que eu podia fazer, porque eu fiquei muito indignado, revoltado com tudo isso que está acontecendo, né?O governo não tomou as medidas necessárias, fazendo com que o povo realmente colocasse o corpo no trabalho para salvar a economia. E com isso teve esse tanto de mortes, essa coisa horrorosa, a gente sendo aí mal visto pelo mundo com relação a isso.
Então eu vi que como a lei dá ao cidadão o direito de impetrar [pedido de impeachment], a única forma de eu me consternar nisso seria através de um pedido de impeachment.. Eu comecei a pensar nisso em janeiro deste ano, foi aí que eu sentei, comecei a olhar os jornais, ver tudo que se referia a isso. E aí nisso eu comecei a dar formato ao pedido. Que, no meu caso, era a única forma de poder me manifestar.
No seu pedido você cita diversas ações que Bolsonaro cometeu durante a pandemia. Para você, dentre esses, quais são os crimes mais graves que Bolsonaro teria cometido?
Eu acho que o mais grave é a questão da saúde. O que eu achei pior foi a questão do desleixo na saúde pública, do cuidado com a saúde. Vendo o que muitos países fizeram e salvaram vidas, que aqui poderia ser adotado, mas ele seguiu notoriamente um caminho de imunização pela doença - tanto é que ele mandava as pessoas irem trabalhar, porque "tem que salvar a economia". Ele tá notoriamente falando: "eu não vou ajudar ninguém, vocês que se virem". Então, a pessoa pobre, que não tem como se virar, teve que ir. E isso fez com que o vírus não parasse de correr entre as pessoas.
Eu estava louco vendo a doença passando entre os seres humanos e nada sendo feito. Achava isso um absurdo. E nesse sentido, só o governo pode atuar. E isso me deixava mais consternado.
Na sua opinião, quais os impactos presentes e futuros da gestão de Bolsonaro em relação à pandemia?
Eu acho que cada governo tem lá o seu carimbo, né? Como se fosse uma espécie de tatuagem que representasse aquele governo. E eu acho que esse governo, o que vai deixar de legado, é o descuido com a população mais carente, a população que mais necessitava no meio de uma pandemia, que a gente nunca tinha passado por isso. Eu acho que isso é o que mais vai ficar visível quando se lembrar de Bolsonaro, é a quantidade de pessoas que morreram, o desleixo total, a posição dele em relação às normas que tinham que ser adotadas. Tinha várias formas de ajudar a população como um auxílio emergencial maior e melhor distribuído, por exemplo. O grande legado dessa política vai ser esse, essa alcunha que chamam ele de genocida, vai ficar.
Bolsonaro já é o presidente que mais recebeu pedidos de impeachment na história brasileira, com mais de 130 pedidos. No entanto, não foi dado andamento a nenhum pedido e o presidente da Câmara, Arthur Lira, chegou a dizer recentemente que analisou os pedidos e nenhum deles é “útil”. Como você avalia a postura de Lira?
Dentro da nossa democracia, nós temos um remédio que é o impeachment. O problema é a Constituição pegar isso e entregar esse poder total na mão de uma pessoa só. Porque o impeachment tem uma característica de depender não só da formalidade, da materialidade dos fatos, mas também de um cunho político. E o presidente da Câmara, é um erro por essa questão pra ser resolvida só por ele. Nós estamos diante de um massacre desses e não podemos fazer nada, dependemos disso.
Até agora a gente teve dois processos de impeachment legalizados e os motivos foram muito menores de tudo que está acontecendo. Porque além de tudo que já aconteceu, nós ainda temos a CPI revelando uma corrupção enorme por trás da compra de vacinas. E hoje estamos vendo claramente as negociações espúrias em relação à vacina.
E é um erro, vendo tudo isso, colocar o impeachment na mão de uma só pessoa. Ele [Arthur Lira] se esconde, diz que não tem clima político, e a gente fica aguardando ansioso. Parece que tá todo mundo em volta da eleição de 2022, para quem ganhar tomar posse em janeiro de 2023, e a gente aqui sendo massacrado até lá. Isso é um erro, entregar esse poder pra um pessoa só, que tem um vínculo com ele.
Tinha que dar encaminhamento, pelo menos olhasse e desse seu parecer, porque está muito claro o cometimento de vários crimes, crimes horrorosos, pesados, crimes de responsabilidade, crimes comuns. É muito crime.
E você pega esses dois impeachments que tiveram, o do Collor foi por uma Fiat Elba, o da Dilma por uma pedalada fiscal. Isso não é nada em comparação ao que esse homem está fazendo. Por isso acho que temos que mudar a forma que isso [impeachment] será encaminhado no futuro.