Vargem Grande

A TV sem outorga do líder da oposição

Para se contrapor ao canal de televisão controlado pela prefeitura de Vargem Grande, no Maranhão, o líder da oposição, vereador Toninho Abreu (PP), implantou a TV Líder, sem licença do Ministério das Comunicações.

A emissora é administrada por Oneilson Abreu, irmão do vereador. Retransmite a programação da TV Cidade, afiliada da Record no Maranhão.

Vargem Grande tem 55 mil habitantes e fica a 172 km da capital. A cidade ganhou destaque em 2011, quando o IBGE divulgou que 36% de sua população vivia abaixo da linha da pobreza.

Abreu admite que a emissora não tem outorga, mas não a considera ilegal, já que possui um contrato com a TV Cidade, da família do senador Roberto Rocha (PSB).

“Estamos correndo atrás da outorga, mas o ministério é muito lento”, argumenta. Ele diz que a empresa entrou com pedido em 2014.

A TV Líder funciona junto com uma rádio comunitária, na qual vários jovens apresentam programas. A estrutura é pequena, mas os equipamentos e o prédio são modernos. O vereador Toninho Abreu apresenta o principal jornal, o Balanço Geral, de 12h às 13h, e tem um programa ao vivo, de forró, nos finais de semana.

Sob o comando da prefeitura

A prefeitura de Vargem Grande tem o canal 4, que retransmite a Globo, e paga R$ 5.500 por mês ao grupo Mirante para fazer a manutenção técnica dos equipamentos.

Como a Mirante não autoriza a inclusão de conteúdos locais, a prefeitura banca também o canal 7 (SBT), que pertence à TV Difusora, da família Lobão. À frente da emissora local está o secretário de comunicação da prefeitura, Matias Barros.

O canal 7 produz dois jornais locais diários: o Aqui e Agora, com foco no noticiário policial, das 12h às 13h, e o Jornal da Difusora, das 19h às 19h30. Segundo Barros, a prefeitura paga R$ 4 mil mensais à Difusora e arca com os custos de energia e com os salários dos seis funcionários.

Questionado sobre a prefeitura pagar pelo sinal da Mirante, sem poder incluir programas locais, Matias Barros diz que, certa vez, o prefeito tentou cortar o serviço, mas enfrentou uma reação grande. “A maioria da população não tem condição de comprar parabólica. Quando o canal fica fora do ar, o povo só falta morrer. Deixamos no ar para satisfazer o ego da comunidade”, respondeu ele.
O secretário diz que na retransmissora do SBT, a prefeitura tem espaço para divulgar os assuntos de interesse do poder municipal.

“É necessário um deputado que apadrinhe o pedido de outorga”

Oneílson Abreu deu a seguinte entrevista sobre o papel da TV e a situação política na cidade:

É preciso ter padrinho político para conseguir a outorga?
É necessário um deputado que apadrinhe o pedido e cobre do governo. Se deixar, o processo fica amontoado no Minicom. Temos vários deputados e senadores amigos que cobram o andamento do processo. Mesmo assim, está difícil. A burocracia é muito lenta.

Quando vocês implantaram a emissora?
Ela nasceu em 2005 com a rádio comunitária. Compramos os equipamentos aos poucos. Em outubro de 2011, a TV foi incendiada, por ordem do então prefeito. Há uma ação judicial sobre as causas do incêndio. A emissora ficou seis meses fora do ar.

Como vocês se relacionam com a prefeitura?
Mostramos os erros e damos a eles chance de se explicar. Às vezes a prefeitura nos dá entrevistas, outras vezes manda a resposta por escrito.

Como é o contrato entre a TV Líder e a TV Cidade?
Temos um contrato por dez anos, que vence em 2016. Estamos recebendo o sinal da Record de graça, mas fomos avisados de que se quisermos renovar teremos de pagar cerca de R$ 4 mil por mês. Como temos interesse, vamos pagar..

Por que acham que vão conseguir a outorga de um canal na cidade?
A TV Cidade é do mesmo grupo político do governador Flávio Dino, que a gente apoiou na eleição. Então, temos preferência.

A TV Cidade fiscaliza o conteúdo que vocês produzem?
Todas as afiliadas Record colocam suas reportagens em uma rede, e a TV Cidade usa as matérias que lhe interessar.

Como a emissora sobrevive financeiramente?
Da venda de anúncios. Temos contratos com lojas e com prefeituras de municípios vizinhos, com a Assembleia Legislativa e com o governo do estado.

Vocês cobram para entrevistar políticos?
A gente costuma cobrar uma taxa pequena, de R$ 300 a R$ 400 de vereadores, prefeitos e deputados. Temos 15 funcionários e uma folha de pagamentos de R$ 8 mil mensais. A rádio comunitária não tem arrecadação.

Qual é o perfil de sua equipe?
Nenhum tem formação específica em comunicação. São pessoas com boa dicção e segundo grau completo, que abraçaram o jornalismo e sonham em chegar a uma emissora maior.