Marabá

TV é mandato sem urna

Um homem de meia idade e acima do peso vem ao meu encontro em Marabá. É Demetrius Fernandes Oliveira, de 59 anos, ex-suplente do senador Mário Couto, do PSDB. Ele retransmitiu o SBT na cidade até dezembro de 2014, quando perdeu a bandeira da emissora para o prefeito de Curionópolis, Wenderson Chamon, do PMDB.

Demetrius foi proprietário da Usina Siderúrgica de Marabá, acusada por ambientalistas de usar madeira retirada ilegalmente da Amazônia. Ele comprou o canal 7 de Marabá em 2004 com o objetivo de blindar a empresa de críticas, mas a usina acabou fechando quatro anos depois.

O empresário comparou a outorga de televisão a um mandato político. “É um mandato diferenciado, porque não passa pelas urnas. Com uma emissora local você se torna uma mini autoridade, digamos assim.” Depois de passar pela política e pela mídia, ele concluiu que a força dos dois campos é similar, com alguma vantagem para a última. Costuma dizer que o maior coronel eletrônico do Brasil é a Globo, pelo poder de massificar opiniões.

Demetrius administrou o canal 7 por dez anos, mas manteve a outorga em nome do antigo proprietário, o radialista José Adão, que possui várias retransmissoras no Pará. Ele resumiu numa palavra o motivo de não ter feito a transferência da outorga: “Desleixo”. Disse não ver maiores problemas em ter uma televisão em nome de terceiros: “É mais perigoso ter um carro em nome de outro. Televisão só dá uns processinhos bestas, sem relevância.”

O empresário disse que vendeu a outorga da emissora a um pastor evangélico depois de perder a afiliação ao SBT, mas que ainda são dele as instalações e os equipamentos. O canal 7 se afiliou à Record News.

Com 250 mil habitantes, Marabá é uma praça concorrida na televisão. Fica no sudeste no estado, a 500 quilômetros de Belém, e tem 13 canais de retransmissão de TV com autorização de funcionamento do Ministério das Comunicações. Seis deles nunca entraram no ar. Segundo Demetrius, uma outorga de retransmissão de TV em Marabá vale R$ 1 milhão, enquanto o arrendamento do canal custa cerca de R$ 50 mil mensais.

Apesar da concorrência, afirmou ele, o mercado de trabalho para os jornalistas é muito cruel na cidade. “Os jornalistas são uns pobres coitados. A maioria dos repórteres ganha salário mínimo.”

Rio Tocantins na cidade de Marabá.

Rio Tocantins na cidade de Marabá (Foto: Ninja Midia / Flickr)