O prefeito de Curionópolis, Wenderson Chamon, do PMDB, é o novo fenômeno da radiodifusão do sul do Pará. Ele montou uma rede regional de televisão, afiliada ao SBT, a partir de seis retransmissoras obtidas em 2010, no último ano do governo Lula. O prefeito, conhecido como Chamonzinho, é filho do deputado estadual João Chamon Neto. As outorgas dos canais estão em nome da mãe, Ângela Chamon, e da mulher dele, Mariana Azevedo.
A emissora central é o canal 26, de Marabá, onde a família Chamon tem também rádios e jornal impresso. A rede se estende às cidades de Canaã dos Carajás, Curionópolis, Parauapebas, Redenção e São Félix do Xingu. Com a entrada de Chamon, políticos sem mandato da região perderam a bandeira do SBT e tiveram de buscar guarida em redes menores e menos lucrativas para não perder seus canais.
Curionópolis foi fundada pelo major Sebastião Curió perto de Serra Pelada, ou o que restou do maior garimpo de ouro a céu aberto que já existiu. É uma cidade pobre, com casas de madeira e uma população de antigos garimpeiros de Serra Pelada. Muitos exibem incrustações de ouro nos dentes. Vários moradores abordados desconheciam que o prefeito possui TV na região.
A 40 quilômetros de Curionópolis fica Parauapebas, o portão de entrada de Carajás, o megaprojeto de extração de minério de ferro da Companhia Vale.
Genésio da Silva Filho, de 45 anos, é diretor e acionista minoritário da Amazônia Comunicação e Marketing, de Parauapebas, que perdeu a bandeira do SBT para Wenderson Chamon. A empresa de Genésio ocupa o canal 4, que, oficialmente, está em nome da empresa RCR – Rede de Comunicação Regional, de Nagib Mutran Neto, ex-prefeito e vereador de Marabá. Como Chamon, Mutran é do PMDB.
Segundo Genésio, a Amazônia Comunicação comprou o canal de Mutran em 1998, mas a transferência não foi oficializada. É a mesma situação encontrada nas emissoras em nome de Mutran em Conceição do Araguaia e em Xinguara.
A empresa retransmitiu o SBT até o final de março de 2015, quando se afiliou à Rede Brasil, de São Paulo, de menor audiência. O impacto financeiro foi muito grande: doze dos quinze funcionários foram demitidos. A receita caiu e a emissora foi colocada à venda.
“TV é importante para impor respeito aos adversários”
Genésio da Silva Filho começou a entrevista afirmando que televisão no interior da Amazônia só é viável como negócio se estiver vinculada à política ou a igrejas.
Pergunta: O senhor não é político nem pastor. Por que entrou nessa atividade?
Genésio Silva Filho: Nós éramos um grupo político. Uma das sócias da TV é a Bel Mesquita, que foi deputada federal [PMDB, 2007-11] e duas vezes prefeita de Parauapebas, mas se aposentou da política. Ela disputou a última eleição em 2012, para vice-prefeita de Parauapebas, mas foi derrotada.Pergunta: Sua empresa se viabilizava por que uma sócia era política?
Genésio Silva Filho: Sim.Pergunta: Em que medida a emissora de TV é útil ao político?
Genésio Silva Filho: TV é importante para impor respeito aos adversários. Eles pensam: não vou bater nele, porque ele também pode me bater.Pergunta: A Bel Mesquita tinha a emissora para impor respeito e não ser atacada pelos adversários?
Genésio Silva Filho: Basicamente é isso. Mas ela nunca precisou usar a TV para atacar nem para se defender.Pergunta: Como vocês compraram o canal 4 de Parauapebas?
Genésio Silva Filho: O Mutran Neto conseguiu o canal junto ao Ministério das Comunicações e o repassou a um empresário, que revendeu a outorga à jornalista Mariana Pacheco e à ex-deputada Bel Mesquita, que são primas.Pergunta: Por que vocês perderam a bandeira do SBT?
Genésio Silva Filho: O contrato de afiliação tinha uma cláusula que permitia ao SBT romper o acordo a qualquer hora, desde que avisasse com 30 dias de antecedência. No dia 15 de novembro de 2014, o SBT nos avisou do rompimento. Conseguimos uma prorrogação por 90 dias. Deixamos de retransmitir o SBT no dia 31 de março de 2015. O sinal do SBT agora está com o Chamonzinho, no canal 40. Passamos a retransmitir a Rede Brasil, do empresário Marcos Tolentino, de São Paulo.Pergunta: E como está a emissora depois da mudança?
Genésio Silva Filho: Ainda não conseguimos empatar custo e receita. Estamos comendo o capital da empresa. Demitimos 12 dos 15 funcionários. Suspendemos a produção de conteúdo local.Pergunta: Você acha que a empresa perdeu o contrato com a SBT por que a sócia não é mais política?
Genésio Silva Filho: Com certeza. O atual prefeito de Curionópolis está comprando um império de comunicação. Muitos se perguntam sobre a origem dos recursos, mas ninguém bate com ele de frente. Quem vai enfrentar o império?