Inicialmente, por que você decidiu apresentar um pedido de impeachment?
Primeiro, porque o presidente da república já tem um histórico negativo como militar. Ele não seria o meu representante, então não serviria para ser o presidente. Tudo aquilo que já era negativo dele, no passado, tornou-se negativo no presente também. Nesse período de pandemia, era para ele fazer totalmente diferente e se igualar a países de primeiro mundo, mas ele preferiu cruzar os braços ao invés de tomar providência.
Eu também pedi [na peça] a exterminação da família Bolsonaro dentro do cenário político brasileiro. Isso foi em meados de abril [de 2020], ou seja, antes. Essa rachadinha foi mais conhecida agora, isso comprova também a minha indignação que é a família Bolsonaro estar na ativa. O que eu já pensei no passado se comprovou no presente. Flávio Bolsonaro se envolvendo com esquema, rachadinha, corrupção etc. Isso é uma contradição de tudo que o Bolsonaro pregou. Bolsonaro na verdade [foi eleito] por um voto de protesto, pessoas desinformadas apostaram, mas sem saber do passado. Sem saber a origem, quem era ele, o que ele fez, por que saiu do exército.
Quais são os crimes que você aponta?
Bolsonaro cometeu vários crimes, mas os crimes de responsabilidade são os principais. É genocídio, ele entregou a nação brasileira, abriu as portas para o vírus. Ele cruzou os braços, não quis combater. Ele superou a maldade do Hitler na Segunda Guerra Mundial, como citei dentro da solicitação do impeachment. O meu pedido não é apenas uma solicitação, mas sim um documento histórico no qual eu comparei o Bolsonaro com um dos piores terroristas do passado, do século XX. Através desse genocídio, de toda essa ignorância dele [Bolsonaro], ele cometeu esse crime de responsabilidade. Esse cara já era para ter sido expulso, exonerado, desde o primeiro momento que ele cruzou os braços, que cometeu esse crime de responsabilidade.
Como foi o processo para protocolar o pedido?
Eu entrei em contato com a Câmara e com o Senado, e o sistema eletrônico não funcionava. A única forma de protocolar os pedidos de impeachment era só mediante os correios, porque com a pandemia estava tudo fechado. Eu enviei pelos Correios, era a única forma que tinha. Eu liguei para os assessores tanto do Senado quanto da Câmara e eles falaram que não tinha chegado ainda. Fiquei surpreso de ter chegado agora em janeiro de 2021.
Desde que você protocolou o pedido lá no início, a pandemia de Covid-19 teve várias fases. Você avalia que isso afeta o seu pedido, que desde o início trazia a negligência com a pandemia para justificar o impeachment?
No início da gestão ele teve a oportunidade de fazer a diferença. A pandemia era o principal foco, mostrar a administração dele no período. Só que ele cruzou os braços, e ainda permanecem cruzados. Através disso começou a corrupção. O mesmo que acontecia no PT veio a se manifestar na gestão dele - como, por exemplo, o próprio Flávio Bolsonaro. Por que o filho dele não foi penalizado? Porque pertence à família Bolsonaro. Já contrariou totalmente a ideologia dele sobre corrupção.
A que você atribui a demora para o presidente da Câmara aceitar esse pedido?
Eu vejo como vista grossa, e a própria palavra corrupção.
Se Bolsonaro sair, quem assume é o Mourão. Considerando isso, você acredita que o impeachment é a melhor saída?
Na minha visão o impeachment seria para os dois, tanto para o presidente quanto para o vice. Teria que sair os dois, porque o esquema vai permanecer o mesmo, então não basta eliminar o Bolsonaro e permanecer o Mourão.
A propósito, o que eu tenho para dizer é que militar de verdade não apoia o Bolsonaro. Militar de verdade respeita o R.D.E., o Regulamento de Disciplina do Exército. É como nós cidadãos temos que respeitar a Constituição. Quem segue Bolsonaro não respeita o R.D.E, então para mim não são militares.
Para mim, o impeachment hoje não seria um fracasso, mas sim uma forma de disciplina. Quando existe um criminoso, a justiça vai lançar a sentença, vai condená-lo. Tanto um ano, dois anos, três anos e sucessivamente. O impeachment para mim seria isso, uma condenação. De forma condenatória, de disciplina, tem que haver o impeachment para penalizar. Se conseguimos tirar a Dilma, o PT, por que não tiramos esse indivíduo que nem tem sigla partidária? Traiu o próprio partido. O político só existe graças ao partido, quando ele dá as costas ao partido ele vira um desertor. Ele já traiu o partido, se ele traiu o partido ele vai trair todos. Não quis acatar, ele não gosta de seguir regras, como não seguiu no Exército. Saiu do partido, para ficar só ele no poder. O impeachment é a melhor coisa.