Você apoiou o presidente Bolsonaro (sem partido) durante as eleições de 2018 e exercia a função de líder do governo no Congresso. Como foi o rompimento de sua relação com o presidente?
Meu distanciamento do presidente da República começou quando pra mim ficou absolutamente claro que o Flávio Bolsonaro era culpado por todos os esquemas de desvios de dinheiro público, de corrupção no Rio de Janeiro. O presidente, o Palácio como um todo queria que eu como líder defendesse veementemente o Flávio Bolsonaro, o que não aconteceu.
Eu, pelo contrário, dizia publicamente que as investigações deveriam continuar e, se ele fosse inocente - eu até daria o benefício da dúvida - ele que provasse sua inocência, mas que deveria se afastar do mandato para isso. Porque eu estava vendo a clara interferência do Planalto para ajudar o Flávio Bolsonaro, do pai para ajudar o Flávio Bolsonaro que claramente é um corrupto, ladrão. Alguém que desviou dinheiro público, que tem patrimônio infinitamente maior do que poderia ter construído com aquilo que ganha como político.
Então, nesse momento houve distanciamento e depois houve uma série de outros fatores como frituras de ministros, que eu sempre fui contra, a demissão do [ex-ministro] Santos Cruz, a questão do [ex-ministro Gustavo] Bebiano, eu fui contra aquela ação.
Quando o presidente começou a fritar o Sérgio Moro, eu fui contra. Quando foi contra o pacotão envolvendo os crimes de corrupção e crimes violentos, porque o presidente ajudou a desfigurar algumas ações que tinha prometido ao Moro fazer, eu fui contra. Então, a coisa foi um somatório de ações que eu claramente dizia para o presidente que era contra, porque eu não podia compactuar com aquele tipo de sujeira.
Aquilo foi desgastando a relação até o ponto em que ele resolveu fazer uma interferência direta no meu partido, no PSL, para de novo beneficiar um filho. Ele quis dar um golpe no partido para colocar o filho na liderança e eu fui contra, porque já tinha palavra empenhada com outro parlamentar. E aquilo foi a gota d’água.
Na sua visão, quais crimes Bolsonaro teria cometido?
Há uma sucessão de crimes e eventos com indícios de crimes cometidos pelo presidente da República. Mas os mais graves, com toda certeza, são os recentes. As interferências na PF para salvar seus filhos. É um crime que puxa outros crimes.
No momento que o presidente interfere politicamente na Polícia Federal, tenta abafar investigações envolvendo seus filhos - tanto o Carlos quanto o Flávio, e o Eduardo também, por conta de ter a fábrica de fake news dele- , mas essencialmente o presidente tenta blindar o Flávio, que é corrupto, que é ladrão e o Carlos Bolsonaro, que tem toda uma máquina de fake news por trás dele.
Quando o presidente usa o Estado brasileiro, a Polícia Federal, quando forja um documento - ele cometeu falsidade ideológica quando forjou a assinatura do Moro, colocou a assinatura do Moro quando ele não assinou na exoneração do Valeixo -, quando troca deliberadamente um superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro para perseguir desafetos políticos.
Tudo isso é uma sucessão de crimes claros cometidos pelo presidente da República.
Nós vemos um desapreço pela democracia, nós vemos um presidente ferindo o tempo todo a Constituição, participando de ações antidemocráticas, então tudo isso forma o conjunto criminoso que envolve o presidente da República, e isso é muito grave.
O problema é que é uma sucessão tão grande de eventos criminosos ou com indícios de crimes, e sempre tem alguma coisa nova, que as pessoas estão se acostumando com esses desmandos, estão se anestesiando, o que é muito grave para a democracia brasileira.
Você disse que apresentou o pedido de impeachment como uma representante da direita. E que esse movimento, de impeachment, deve ser liderado pela direita. Isso quer dizer que a direita precisa fazer um mea culpa pela eleição do presidente Bolsonaro?
É, sem dúvida. E eu já fiz o meu mea culpa, já pedi perdão à nação brasileira por ter ajudado com tanto trabalho, com tanta veemência a eleger esse homem.
Por óbvio que, no segundo turno, a gente tava num mato sem cachorro porque era PT de um lado e Bolsonaro de outro, que todo mundo sabia que era um grosseirão, um despreparado, mas ninguém imaginou que ele fosse flertar tanto com corrupção e cometer tantos desmandos.
Eu jamais imaginei que ele fosse cometer os desmandos que cometeu. Imaginei que ele fosse um homem bronco e despreparado. Até meio limitado intelectualmente, mas nunca imaginei que ele fosse ceder tanto à corrupção como está cedendo nos últimos tempos.
Então a direita precisa fazer o seu mea culpa, eu já fiz o meu.
Nós precisamos consertar o que ajudamos a fazer e seguir na busca de um grande líder que possa enfrentar esse homem. Precisamos colocar um líder de direita, alguém que respeite a Constituição, os ideais liberais da presidência da República.
Em vídeo, você diz que a melhor opção seria a renúncia imediata do presidente para que o vice, o general Hamilton Mourão, pudesse assumir. O governo do vice não representaria uma continuidade do atual?
O vice é mais preparado, mais ponderado, ele tem inteligência emocional, é alguém disposto a dialogar. Então, realmente é um homem que abriria um diálogo de verdade, não esse tipo de cooptação que o presidente tá fazendo com partidos do centrão, vendendo o governo.
O impeachment é a melhor opção ou apenas aprofundaria a crise do país? É uma pauta que, na sua opinião, une a esquerda e a direita nesse momento?
O impeachment une todos aqueles que respeitam a Constituição, a lei, que querem o cumprimeiro da lei e um país decente. Infelizmente o presidente perdeu todas as condições de governar - morais e legais.