Lisete usa dado falso sobre queda no atendimento de hospital da USP
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
PSOL - Lisete Arelaro

Lisete usa dado falso sobre queda no atendimento de hospital da USP

Funcionamento de fato caiu nos últimos anos devido à crise na universidade, mas em porcentual muito inferior ao citado pela candidata do PSOL

Saúde

Jessica Mota
4 minutos

“Lá [no Hospital Universitário da USP] estamos funcionando com 25% da capacidade.” – Lisete Arelaro (PSOL), no debate Universidade vai às urnas.

Em sua participação no debate organizado pelo Universidade vai às urnas, que aconteceu no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, o Tuca, a candidata Lisete Arelaro (PSOL) afirmou que o Hospital Universitário da USP funciona com 25% de sua capacidade total. O Truco nos Estados – projeto de checagem de fatos da Agência Pública – analisou a frase e concluiu que a afirmação é falsa. Embora a quantidade de atendimentos tenha de fato diminuído, isso não ocorreu na proporção citada pela candidata.

A assessoria de imprensa da campanha de Lisete informou que se baseou em estudos do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) e em informações dadas em audiências públicas com o superintendente do Hospital Universitário e movimentos de defesa do hospital. A campanha da candidata, porém, não especificou quais são os estudos, nem a que processo se referiram as audiências públicas citadas.

Segundo Marilia Louvison, professora do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP, que pesquisa sistemas de saúde, há várias maneiras de verificar se um hospital tem funcionado adequadamente à sua capacidade. Para além do número de leitos disponíveis aos pacientes, é preciso aferir e analisar dados sobre as quantidades de médicos trabalhando no hospital, consultas e exames realizados, internações e cirurgias. “Uma coisa é a estrutura disponível, outra coisa é o funcionamento. O atendimento pode ter sido reduzido por conta da diminuição de recursos humanos e financeiros”, explica.

O Truco comparou a capacidade de atendimento em 2017 com a capacidade de atendimento do hospital há cinco anos, em 2013. De acordo com a assessoria de imprensa do Hospital Universitário, a capacidade de produção do hospital se manteve estável até esse ano, antes que fosse lançado o programa de demissão voluntário da USP, em 2014.

O Ministério da Saúde reúne os números de atendimentos ambulatoriais e internações realizadas por todos os hospitais que atendem o Sistema Único de Saúde (SUS), como o Hospital Universitário. De acordo com os dados enviados pela pasta, houve 16.503 internações e 1.261.235 de atendimentos ambulatoriais em 2013. Em 2017, os números caíram para 12.078 internações e 858.061 atendimentos ambulatoriais. Ou seja, se comparado a 2013, no ano passado o hospital operou com 73,1% da capacidade de internações e 68% da capacidade de atendimentos ambulatoriais.

Dados de internações e atendimentos ambulatoriais do Hospital Universitário da USP

Ano

Internação Ambulatorial
Frequência Valor Frequência

Valor

2013               16.503    R$ 13.037.403,84         1.261.235  R$ 12.558.335,73
2014               13.401     R$ 10.278.131,04         1.125.973   R$ 10.917.786,79
2015               13.075     R$ 10.255.307,61         1.224.019   R$ 11.114.629,72
2016               12.533     R$ 10.452.972,12            999.407      R$ 9.570.425,05
2017               12.078     R$ 10.273.085,45            858.061      R$ 8.437.839,43

Fonte: Ministério da Saúde

Crise na USP reduziu atendimento

No dia 30 de agosto, estudantes e moradores da região do Butantã, bairro na zona oeste de São Paulo onde está localizada a USP, montaram um acampamento em frente ao Hospital Universitário como forma de protesto contra o desmonte dos serviços que ocorre desde 2014, segundo denunciam. A mobilização é fruto da reunião entre o Diretório Central dos Estudantes da USP, o Coletivo Butantã na Luta, a Associação dos Docentes da USP (Adusp) e o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp). Além desse ato, o Hospital Universitário foi pauta nos últimos anos de passeatas, greve, outro acampamento, de um abaixo-assinado em sua defesa, de reuniões no Ministério Público e audiências na Assembleia Legislativa de São Paulo. O hospital é público e também funciona como escola para os estudantes da saúde da USP.

A crise no hospital coincide com a crise econômica da Universidade de São Paulo, agravada em 2014 pela redução da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), segundo informou a universidade. O ICMS é a principal fonte de arrecadação de São Paulo e uma parcela do imposto vai para as universidades estaduais (USP, Unesp e Unicamp). Naquele ano, a universidade iniciou o Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV).

Em razão da crise, o Cremesp realizou quatro fiscalizações no Hospital Universitário desde 2015. A última ocorreu dia 24 de novembro de 2017. De acordo com as informações reunidas pelo Conselho, o programa de demissão voluntária ocasionou a saída de 393 (21,68%) funcionários do HU. O hospital perdeu 42,24% dos profissionais de auxiliares de enfermagem, 19,89% dos técnicos e técnicas de enfermagem, 14,72% dos médicos e médicas e 8,04% das enfermeiras.

As fiscalizações também constataram a redução de 33 leitos (15,64%) nas unidades de terapia intensiva, semi-intensiva, berçário, obstetrícia e pediatria. Houve redução de 11% das internações, 6,88% das cirurgias e 9,86% dos partos. No final de 2017, o pronto-socorro infantil foi desativado. Em dezembro, foi a vez do pronto-socorro adulto. “As vistorias anteriores evidenciaram a progressiva desativação do Hospital Universitário, desde 2014, e testemunhada em reunião do presidente do Cremesp, em 2015, com o reitor da Universidade de São Paulo”, concluiu o relatório. Atualmente, o pronto-socorro do HU atende somente pacientes encaminhados por outros prontos-socorros da região.

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