
“Nós queremos dar emprego aos quase 14 milhões de desempregados que o governo do PT colocou na rua.” – Pauderney Avelino (DEM-AM), deputado federal, em discurso no plenário da Câmara no dia 26 de abril.
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Deputado federal pelo DEM de Amazonas, Pauderney Avelino (DEM) afirmou, em discurso durante discussão da reforma trabalhista na Câmara, que o governo do PT seria responsável por colocar na rua “quase 14 milhões de desempregados”. Procurada pelo Truco – projeto de checagem de fatos da Agência Pública –, a assessoria do deputado afirmou que o dado apontado pelo deputado está disponível em diversas agências de notícias e que a fonte primária e oficial seria o site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, referente ao primeiro trimestre de 2017, estimou em 14,17 milhões o número de pessoas desocupadas no Brasil. O número é similar ao apontado pelo deputado, que falou em “quase 14 milhões”. Segundo a metodologia do IBGE, são classificadas como desocupadas as pessoas não ocupadas que tomaram alguma providência efetiva para conseguir um trabalho no período da pesquisa. O número equivale a 13,7% da População Economicamente Ativa brasileira.
Entretanto, não é correto afirmar que o “governo do PT colocou na rua” este contingente. O impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) ocorreu em agosto de 2016. No trimestre em que aconteceu a destituição, que vai de julho a setembro de 2016, a população desocupada no Brasil era menor: 12,02 milhões de pessoas. Em termos porcentuais, o número representava 11,8% da população. O número aumentou cerca de 1% a cada trimestre desde esse período, chegando às mais de 14 milhões de pessoas no trimestre mais recente, que se encerrou em março de 2017.
Além disso, é importante destacar que o número de desempregados que surgiram no governo do PT também não corresponde a 12 milhões de pessoas. Isso porque, quando o partido assumiu, já existiam cidadãos desocupados no país. Como o desemprego registrado no Brasil nunca foi nulo, não é correto afirmar que o governo petista é responsável por todos os desempregados registrados nas pesquisas feitas ao final do governo Dilma.
Por conta de diferenças de metodologia, não é possível comparar os números do final do governo PT com os dados do IBGE de 2003, quando Lula assumiu, ou de 2011, quando Dilma iniciou seu primeiro mandato. A Pnad, pesquisa usada atualmente para indicar o índice de desemprego no país, só assumiu seu formato atual em 2012. Até então, a pesquisa do IBGE que avaliava desocupação era a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), realizada em apenas seis capitais brasileiras. A PME, que foi realizada até fevereiro de 2016, só coletava dados em seis regiões metropolitanas. De acordo com a assessora de imprensa do órgão, Adriana Saraiva, o IBGE era muito cobrado pelas lacunas que essa pesquisa trazia. Os dados das seis capitais selecionadas na pesquisa não refletiam o cenário geral do país, já que ela não abarcava informações sobre o desemprego rural, além de fenômenos regionais.
De acordo com estatísticas da PME, a taxa de desocupação em janeiro de 2003, quando Lula assumiu, era de 11,2%. No final de seu primeiro mandato, em 2006, o índice estava em 8,4%. No segundo mandato, o índice começa em 9,3% em 2007 e se encerra em 5,3% em dezembro de 2010.
Já o mandato de Dilma se inicia em janeiro de 2011, com uma taxa de 6%, e acaba com uma taxa de 4,3%, em dezembro de 2014. O segundo mandato da petista tem início em janeiro de 2015, com índice de 5,3%. Em fevereiro de 2016, seis meses antes do impeachment, a PME é suspensa. O índice registrado no último mês da pesquisa foi de 8,2%.

Portanto, é incorreto afirmar que o governo do PT é responsável por “colocar na rua” um total de “quase 14 milhões de desempregados”. A afirmação foi classificada como distorcida, pois os dados foram usados na frase para produzir uma falsa interpretação da realidade.
Atualização (08/05, às 14h05): Texto corrigido para deixar mais claro que os 13,7% de desempregados referem-se à População Economicamente Ativa.