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Em meio a crise hídrica, obras descumprem prazos

Da Redação
13 de agosto de 2014
12:00
Este artigo tem mais de 9 ano

Em fevereiro a reportagem “Transposição: via de mão única” foi publicada no site da Agência Pública trazendo o mês de dezembro de 2015 como prazo do governo para a conclusão do Projeto de Transposição do Rio São Francisco, o Pisf. O Ministério da Integração declarou que em abril de 2014 a primeira meta do Eixo Leste estaria pronta. Essa meta vai da captação da água no reservatório de Itaparica até o reservatório de Areias em uma extensão de 16 quilômetros, ou seja, 7,37% do total do Eixo Leste que tem 217 quilômetros. Ela serviria como um teste para o funcionamento do sistema. Seria uma grande festa de inauguração.

Abril chegou e se foi, assim como maio, junho e julho, quando a atualização do MI sobre o andamento das obras era de 88,9% nesse trecho. Em resumo, números demais para concluir simplesmente que a obra está atrasada. O prazo de abril deste ano foi informado durante a apuração da matéria feita entre novembro (2013) e janeiro (2014). Naquela época o trecho estava com 85,5% de conclusão.

Em conversas com técnicos no Eixo Leste, em dezembro de 2013, um deles confessou que o empreendimento não estaria pronto em 2016. Esta não é a informação oficial do governo, mas vem da boca de quem está no canteiro de obras. Por que o governo não divulga prazos exequíveis? Por que teima em sustentar que as águas chegarão aos destinos finais do Pisf até o final do ano que vem? (Lembre-se que os destinos finais deste projeto são Monteiro e Cajazeiras, ambos na Paraíba).

O informante disse ainda que no caso de estarem totalmente concluídas as obras, entre reservatórios, túneis e canais, as águas demorariam mais ou menos três anos para chegarem do São Francisco até o reservatório de Poções, em Monteiro. Esse será o tempo necessário para encher cada um dos oito reservatórios no percurso até Monteiro, contando com a vazão de água prevista no projeto com mínima de 7 metros cúbicos por segundo e máxima de 29. Quer dizer, o sertanejo que espera ansioso pelas águas continuará vivendo de miragens.

Enquanto isso, o inverno na Caatinga vem chegando ao fim sem que a chuva tenha alcançado as médias de precipitação. Em alguns municípios no sertão paraibano a umidade do ar chega a 25%, como em Patos, quando o normal para esse período é de 60%. (Dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC). Este é considerado um “estado de atenção”. Os dois açudes que abastecem o município estão com 22% (em junho) e 34% (em julho) do volume total. (Agência Executiva de Gestão das Águas – Aesa-PB). Patos é uma cidade polo do Sertão na Paraíba, com mais de 100 mil habitantes e reflete a situação dos municípios do Sertão.

O reservatório Engenheiro Ávidos, em Cajazeiras, destino final das águas do São Francisco pelo Eixo Norte, estava com 12,5% da capacidade em julho, e baixando. As queimadas que normalmente acontecem com mais intensidade entre setembro e dezembro estão ocorrendo agora, início de agosto. O Instituto de Pesquisa Espaciais (Inpe) registrou 119 focos de incêndio na Paraíba, duas vezes mais do que no ano passado, no mesmo mês. Os meteorologistas afirmaram que a tendência é a umidade do ar baixar ainda mais no sertão, onde a temperatura poderá alcançar 40 graus neste mês de agosto.

O ministro da Integração Francisco Teixeira, inspecionou as obras do Pisf dia 7 de agosto e disse na Paraíba que até o final do ano 70% das obras estariam prontas.

Conversamos com dezenas de pessoas entre Floresta, em Pernambuco, até Monteiro, na Paraíba, durante a viagem pelas obras da transposição, em dezembro de 2013 e nenhum sertanejo demonstrou perder a esperança de, algum dia, receber água. Já foram investidos R$ 5 bilhões pelo governo federal até agora e mais R$ 3,2 deverão ser gastos. Entretanto, quem saberá dizer quando as águas finalmente chegarão às casas do sertão?

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