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A administração Obama depende cada vez mais de ataques aéreos controlados a partir dos EUA para atingir supostos militantes nas regiões tribais do oeste do país

Reportagem
15 de agosto de 2011
12:04
Este artigo tem mais de 13 ano

Ataques de aeronaves não-tripuladas, pilotadas pela CIA através de controle remoto, causaram bem mais mortes no Paquistão do que se pensava, de acordo com pesquisa publicada dia 10 de agosto pelo centro de jornalismo independente Bureau of Investigative Journalism, parceiro da Pública.

Mais de 160 crianças estão entre as 2.292 mortes registradas desde 2004. Há relatos consistentes de pelo menos 385 civis entre esses mortos.

Um oficial de combate ao terrorismo do governo americano também vazou estimativas internas do número total de mortos. A estimativa é de que 2.050 pessoas tenham sido mortas durante ataques de aviões sem tripulantes, e somente 50 seriam civis.

Investigação

A investigação feita pelo Bureau sobre essa guerra secreta envolveu uma pesquisa e reavaliação de tudo o que se sabia sobre cada um dos ataques de aviões sem tripulantes.

O estudo é baseado em uma análise detalhada de fontes confiáveis: 2.000 notícias que saíram na mídia; testemunhos; registros  feitos por ONGs e advogados nos campos de batalha; documentos diplomáticos do governo dos EUA; documentos de inteligência vazados; e entrevistas com jornalistas, políticos e oficiais de inteligência.

O resultado foi publicado em 10 de agosto em uma base de dados que cobre, em detalhe, cada um dos ataques. Uma ferramenta de busca, uma linha do tempo e mapas que podem ser pesquisados pelo usuário acompanham os dados. Clique aqui para acessar a base de dados completa, em inglês.

O objetivo da pesquisa é esclarecer o público sobre a guerra remota promovida pela CIA contra os militantes no Paquistão, realizada por aviões pilotados por controle remoto a partir dos Estados Unidos. O Bureau foi avisado de que oficiais da inteligência americana estão fazendo uma campanha para desacreditar o trabalho jornalístico, afirmando que há “problemas significativos com seus números e metodologias”.

Iain Overton, editor do Bureau, comenta: “Não me surpreende que os serviços de inteligência ataquem nossa investigação desta maneira. Mas, dizer que nossa metodologia tem problemas antes mesmo de publicarmos mostra a maneira como eles operam. E isso é reforçado pelo fato de que eles não conseguem chamar os ‘não combatentes’ pelo que realmente são: civis, frequentemente crianças”.

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Muitos outros ataques

Os dados levantados pelo Bureau revelam que houve muitos mais ataques da CIA contra alvos supostamente civis do que se sabia. Pelo menos 291 ataques feitos por aviões sem tripulantes ocorreram desde 2004.

Os alvos – militantes nas áreas tribais – parecem ser a maioria dos assassinados. Há 126 militantes reconhecidamente mortos desde 2004 e mais centenas de militantes desconhecidos.

Pelo menos 385 civis e 168 crianças estão entre os assassinados. Na era Bush, um em cada três ataques registrados mataram uma criança.

Mais de 1.100 pessoas também revelaram que foram feridas por ataques deste tipo – é a primeira vez que o número de feridos é contabilizado.

Após as revelações feitas pelo Bureau, a Anistia Internacional pediu que a CIA seja mais transparente.

“A administração Obama tem que explicar qual é a base legal para ataques no Paquistão se não quiser ser acusada de agir arbitrariamente. O governo paquistanês também tem que prestar contas sobre o assassinato indiscriminado, violando as leis internacionais, que está ocorrendo no país”, afirmou Sam Zarifi, diretor para Ásia da Anistia Internacional.

Civis assassinados no governo Obama

Até o momento, pelo menos 236 ataques por controle remoto foram ordenados pela administração Obama – e pelo menos 1.842 pessoas foram mortas nestes ataques.

Recentemente, o assessor de Obama para contraterrorismo John Brennan disse que o presidente americano “insistiu” que tais ataques “não ponham homens, mulheres e crianças inocentes em risco”. No entanto, pelo menos 218 dos mortos durante os ataques na era Obama podem ter sido simples civis, segundo a investigação do Bureau.

As mortes de civis parecem ter diminuído no último ano. Mas há evidências consistentes de pelo menos 45 civis mortos em dez ataques em 2010. Os Estados Unidos insistem que “não podem confirmar” nenhuma morte de não-combatentes no ano passado.

A morte mais recente ocorreu no dia 12 de julho. Abdul Jalil, um trabalhador imigrante de Dubai, tornou-se um “efeito colateral” quando a CIA atacou um carro que levava oito supostos militantes, segundo pesquisadores do Bureau em Waziristão, a montanhosa região norte do Paquistão.

Estimativas internas do governo americano

As estimativas internas do governo americano sobre os mortos em ataques de aviões não tripulados chegam a 2.050. Apenas 50 destes seriam não-combatentes. A fonte é um oficial de contraterrorismo do governo Obama.

A investigação aponta um mínimo de 2.292 mortos, um número considerado “longe” do real por este oficial, que não é identificado na reportagem do Bureau. “Essas ações alvejam militantes que estão efetivamente planejando matar afegãos, paquistaneses, europeus e americanos, entre outros, e frequentemente ocorrem quando eles estão treinando ou já se preparando para atacar. Mais de 4 mil civis paquistaneses foram mortos por terroristas desde 2009 – a ameaça é clara e é real”.

A Reprieve, uma ONG que atua em campanhas de direitos humanos, afirmou que “as descobertas do Bureau pelo menos trazem uma visão consistente e completa dos fatos.  É um grande começo. A partir de agora, a Reprieve espera que as pessoas vejam a propaganda do governo sobre esse tipo de ataque com uma “pulga atrás da orelha” – e se pergunte, se tais ataques não estão aumentando o número de radicais entre os jovens, do mesmo jeito que Guantánamo fez”.

 

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