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Mais de mil pessoas foram feridas em ataques de aviões pilotados pela CIA

Reportagem
15 de agosto de 2011
12:02
Este artigo tem mais de 12 ano

Algumas pessoas dizem que Sadaullah tem sorte de estar vivo. Quando sua casa em Machi Khel, no norte do Waziristão, foi atingida por mísseis atirados por aviões americanos sem tripulantes, ele sobreviveu. Seu tio, que já estava em uma cadeira de rodas, e mais dois primos morreram.

O ataque, que aconteceu em 7 de setembro de 2009, tinha como alvo um militante que não estava no local. Mas o estudante Sadaullah, de apenas 15 anos, pagou (e paga) um preço terrível por ter sobrevivido: perdeu as duas pernas e um olho no ataque.

Ele é apenas uma das 1.100 pessoas feridas durante ataques de aviões pilotados pela CIA.

“Os feridos que sobreviveram e ficaram aleijados sempre me dizem: ‘não dá para dizer que sou sortudo’”, conta o advogado Mirza Shahzad Akbar, que representa Sadaullah em um caso legal contra a CIA. “Aqui não é Londres, ou Islamabad, a capital do Paquistão. Não há equipamentos para essas pessoas com necessidades especiais no Waziristão, então elas não têm nenhuma perspectiva de futuro”.

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Ferido por estilhaços

O Bureau descobriu detalhes de pelo menos 1.117 pessoas que foram feridas de maneira grave, a ponto de merecer a atenção da imprensa.

Entre os feridos há militantes e civis, adultos e crianças, embora seus nomes sejam raramente relatados nas notícias. Dezenas deles foram feridos durante os ataques – mas ainda mais comum são as pessoas presas em prédios destruídos, feridas por detritos que voam após os ataques, ou por estilhaços de mísseis.

Em algumas ocasiões, encontram-se nomes dos feridos nas reportagens da imprensa. Quando o especialista em explosivos da Al Qaeda, Abu Musa al-Masri, foi morto em 21 de outubro de 2009, pouco se falou sobre as oito pessoas que também ficaram feridas.

Mas naquela ocasião, um fotógrafo da agência Associated Press, que estava acompanhando os militares paquistaneses, também fotografou duas meninas feridas.

Sameeda Gul, de apenas seis anos (foto), teve sua perna atingida, e Fatima Gul, de quatro anos, foi ferida na cabeça. “Nenhuma das duas parece estar em risco de vida”, noticiou a AP.

O maior número de feridos já registrado ocorreu em dois ataques durante os primeiros meses da administração Obama.

Um deles, contra um suposto campo de treinamento do Talibã, matou 31 militantes e civis. Pelo menos 50 pessoas ficaram feridas. Um mês depois, mais 41 pessoas foram feridas em um ataque em Kurram Agency.

Raramente se sabe o que aconteceu com os feridos – especialmente com os que são militantes. Muitos novos relatos mencionam clínicas privadas para onde eles são levados, mas pouco se sabe sobre essas clínicas.

“Traumas psicológicos”

Há evidências que sugerem que os ataques comandados pela CIA nas áreas tribais do Paquistão estão afetando a saúde das pessoas muito além das feridas físicas.

Médicos locais dizem que há um aumento significativo de pessoas que têm que usar tranqüilizantes ou medicamentos para dormir.

Em agosto deste ano, mais pessoas que se somaram à lista de feridos. No dia 10, um ataque aéreo destruiu um carro e uma construção, matando ao menos 21 supostos militantes. Três pessoas ficaram feridas.

Clique aqui para ler a reportagem original, em inglês.

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