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Desde 2018, Eduardo Bolsonaro costura relações com o ex-senador Marco Rubio, que assumiu a Secretaria de Estado de Trump

Reportagem
24 de janeiro de 2025
14:10

“Em um nível, a política externa é um negócio complexo. Mas, em outro nível, é simples: você usa as ferramentas das relações internacionais para combater seus adversários e apoiar seus amigos”, escreveu o recém-empossado Secretário de Estado dos Estados Unidos (EUA), Marco Rubio, em dezembro de 2023. 

Esse trecho de um texto do ex-senador republicano sobre o presidente argentino Javier Milei foi compartilhado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) após o anúncio de que Rubio seria indicado para comandar as relações internacionais no governo do presidente dos EUA, Donald Trump. 

Por que isso importa?

  • Alinhados politicamente e influenciados por narrativas de parlamentares brasileiros, o governo Trump, inclusive por meio de Marco Rubio, pode usar instituições para pressionar o Brasil e impor sanções ao país em busca de interesses de seus aliados.

A mensagem resgatada pelo parlamentar brasileiro representa a expectativa dos bolsonaristas sobre a política externa sob a gestão do ultraconservador. Eduardo Bolsonaro articula para que as instituições norte-americanas atuem para libertar os presos acusados de envolvimento nos ataques golpistas do 8 de janeiro e para livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de uma possível prisão, disseminando o falso argumento de que o Brasil não seria mais uma democracia. 

“Aqui a gente tá fazendo um trabalho pra tentar tirar gente da cadeia”, disse Eduardo em vídeo gravado nos EUA um dia após a posse de Trump, acrescentando que essa virou sua “causa de vida”. 

Ele ressaltou na live que desde 2018 vem “cativando” contatos no país. Dentre eles, o parlamentar destacou o que chamou de “excelente aproximação” que conseguiu fazer com a deputada republicana da Flórida Maria Elvira Salazar. “Maria Elvira Salazar tá colada no Marco Rubio, que é o chanceler do Trump”, observou. 

Nos últimos cinco anos, o deputado brasileiro vem costurando relações com a extrema direita dos EUA, apadrinhado por Steve Bannon, um dos principais expoentes do movimento no país. Levantamento realizado pela Agência Pública mostrou que nesse período Eduardo participou de mais de 80 encontros e eventos com representantes e lideranças da ala conservadora norte-americana. 

Senador pela Flórida desde 2011, Marco Rubio foi um dos primeiros políticos desse grupo a receber Eduardo Bolsonaro após a vitória do pai à presidência, em 2018. Em 2020, Eduardo e o então senador voltaram a se encontrar numa agenda com Jair Bolsonaro em Miami.

“Satisfação conhecer ontem rapidamente o Senador Marco Rubio @marcorubio (Rep.-Florida) que tem destacada atuação em temas latino americanos como a defesa dos direitos humanos na Venezuela”, escreveu Eduardo Bolsonaro em 28 de novembro de 2018, no X (antigo Twitter). Na ocasião, ele estava acompanhado do ex-assessor de Assuntos Internacionais Filipe Martins e do ex-diretor da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) Márcio Coimbra. 

“Dentre muitas reuniões que tivemos ontem, merece destaque a recepção entusiasmada do Senador Marco Rubio, que nos contou sobre o trabalho que ele tem feito para atrair mais atenção para a América Latina em geral e para o Brasil em particular. Segundo ele, vivemos um momento único”, afirmou Martins, também no X.  

Marco Rubio, peça-chave para golpistas

Investigado por suposta participação na tentativa de golpe para manter Jair Bolsonaro no poder, Filipe Martins teria recorrido a Rubio no final do ano passado para tentar provar possível fraude no registro de sua entrada nos EUA após as eleições de 2022. Segundo a Folha de S.Paulo, os advogados do ex-assessor de Bolsonaro teriam se encontrado com o  senador norte-americano após ele ter sido anunciado como futuro secretário de Estado. 

Steve Bannon disse que também irá recorrer ao secretário de Trump para cobrar atitude contra o Brasil devido à ausência de Jair Bolsonaro na posse do republicano. “Eu vou conversar com o senador Marco Rubio, sou muito próximo dele, quando ele tomar posse amanhã [21/01], e dizer: precisamos tomar uma atitude sobre isso”, afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo. “A nossa recomendação é que deve haver sanções severas ao Brasil e particularmente a esse juiz [Alexandre de Moraes] para não ter nenhum acesso aos Estados Unidos”, defendeu, referindo-se ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). 

Moraes já foi alvo de ataque do próprio Marco Rubio, quando decidiu, em agosto do ano passado, suspender a rede social X, porque a empresa não tinha representante legal no Brasil. A plataforma pertence a Elon Musk – que agora faz parte do governo Trump. Na ocasião, Rubio afirmou que o bloqueio do X foi uma “manobra do juiz Alexandre de Moraes para minar as liberdades básicas” no Brasil.

“Desde multar indivíduos e entidades privadas que buscam informações sobre o X até impor censura legal, o povo brasileiro está enfrentando sérias repressões pelo simples fato de se envolver em uma plataforma de mídia social”, escreveu em comunicado. “Para o bem das liberdades básicas e de nosso relacionamento bilateral, o Brasil deve retificar essa medida autoritária”, afirmou Rubio. 

O ex-secretário-executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) Paulo Abrão avalia que o governo Trump vai interferir no Brasil para apoiar a causa bolsonarista “até onde é possível”. “E será via Congresso americano mobilizando cartas dirigidas ao departamento de Estado. Ou seja, com declarações públicas e com a realização de audiências públicas no Congresso americano, construindo palanques a partir dos quais possam projetar a própria voz em defesa dos bolsonaristas e também projetar a voz dos bolsonaristas que fugiram para os EUA, temendo processos judiciais”, ressaltou Abrão, que também é diretor-executivo do WBO (Washington Brasil Office) – centro de estudo que se dedica a promover cooperação e conhecimento sobre a realidade brasileira. Ele acredita, ainda, o atual governo dos EUA tentará forçar a CIDH a atuar contra o Brasil. 

“Vão querer instrumentalizar a ação especialmente da Relatoria Especial sobre Liberdade de Expressão contra as decisões do STF. Se houver resposta crítica da CIDH contra o Brasil, devemos nos preocupar de que vão utilizar isso para tentar justificar e aprovar sanções individuais contra autoridades brasileiras no Congresso e que o Departamento de Estado terá que implementar”, afirmou, acrescentando que “fora isso, é difícil imaginar ações concretas que o Departamento de Estado americano possa tomar direta e proativamente para interferir nos processos judiciais legítimos contra os que tentaram um golpe de Estado aqui no Brasil”.

O que Marco Rubio pensa sobre Bolsonaro, Lula e o Brasil

Quando Jair Bolsonaro tomou posse, em janeiro de 2019, o então senador Marco Rubio, que à época presidia o Subcomitê de Relações Exteriores do Senado para o Hemisfério Ocidental, escreveu um artigo na CNN enaltecendo o então presidente brasileiro. O artigo intitulado “EUA devem investir pesado no Brasil” dá o tom da visão política e econômica do secretário de Estado dos EUA em relação ao Brasil. 

Ele começa o texto dizendo que a posse de Bolsonaro estava “inaugurando uma nova era na política brasileira” e que marcava “uma saída dramática dos governos esquerdistas e antiamericanos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff”.

Rubio defendeu que Donald Trump deveria “aproximar as duas nações mais populosas do Hemisfério Ocidental”. E argumentou: “Um Brasil forte, vibrante e democrático, mais alinhado aos Estados Unidos como parceiro estratégico, pode ser um multiplicador de forças para enfrentar a crise atual na Venezuela (onde a governança se deteriorou e há corrupção generalizada) e para combater as intenções malignas de regimes autoritários como China, Rússia e Irã, que pretendem expandir sua presença e atividades na América Latina”.

No artigo, Rubio sugeriu que o governo Trump atuasse para fortalecer os laços de defesa e inteligência, aumentasse o investimento em comércio, a cooperação no setor de energia, apoiasse a ascensão do Brasil à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e expandisse o acesso dos EUA à indústria espacial brasileira e na cooperação adicional contra o terrorismo e as redes criminosas transnacionais.

Por fim, o ex-senador defendeu investimentos bilaterais entre os setores de energia dos EUA e do Brasil, para criar “uma estrutura de suporte aos países em desenvolvimento no hemisfério”. “Juntos, podemos ajudar a desmamar pequenos países de sua dependência do petróleo venezuelano, o que ajuda a criar dependência do regime do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, um patrocinador estatal do tráfico de drogas (embora negue isso)”, argumentou. 

O novo chefe da diplomacia dos EUA considera o presidente Lula como “líder da extrema esquerda”, conforme publicou em suas redes sociais, em 2024: “O brasileiro Lula da Silva é o mais novo líder de extrema esquerda a encobrir a natureza criminosa do narco-regime de Maduro, dias após se encontrar com o presidente Biden”. 

Paulo Abrão pondera que, apesar da afinidade ideológica entre a extrema direita do Brasil e dos EUA, entre Rubio e os militantes extremistas, entre Trump e Bolsonaro, nos dois países existe uma relação de Estado histórica, de 200 anos entre as duas maiores democracias das Américas e o comércio bilateral – “que é importante para um Brasil que tem os EUA como o principal destino de exportação de seus produtos manufaturados e de um EUA que ocupa, no Brasil, o papel de grande investidor”.

Edição:
Reprodução/Twitter
Gage Skidmore/Wikimedia Commons

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