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Depois do sinal negativo passado pelo governo brasileiro na semana passada para as negociações climáticas da COP30 – com a concessão da licença para a Petrobras fazer perfuração exploratória na Foz do Amazonas –, nesta quinta-feira (30), o sinal não poderia ser dos melhores. A taxa de desmatamento na Amazônia e no Cerrado teve quedas importantes no último ano.
Na Amazônia, a perda oficial de vegetação entre 1º de agosto de 2024 e 31 de julho de 2025 caiu 11,04%, chegando a 5.796 km2. Nos 12 meses anteriores tinham sido desmatados 6.518 km2. É a quarta queda consecutiva, o menor nível em 11 anos e o terceiro menor desde o início do monitoramento pelo sistema Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Na comparação com a taxa de 2022, a redução é de 50%.

No Cerrado, a queda foi de 11,49%, passando de 8.147 km² registrados entre agosto de 2023 e julho de 2024 para 7.235 km² nos 12 meses seguintes. É a segunda queda consecutiva depois de cinco anos de alta.
A redução consistente na Amazônia desde o início do terceiro governo do presidente Lula é relevante para os planos de médio prazo de zerar o desmatamento até 2030. E é particularmente positiva diante da temporada recorde de fogo que tivemos no ano passado. Em alguns momentos nesse período de 12 meses, dados obtidos por outro sistema de monitoramento do Inpe, o Deter, indicavam que a taxa anual poderia vir em alta, porque as queimadas conseguiram devastar volumes significativos de floresta.
De fato, de acordo com o anúncio feito nesta quinta-feira (30) pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Inpe, dos 5.796 km2 que tombaram entre agosto do ano passado e julho deste ano, 3.593 km2 (ou 60%) foram pelo chamado corte raso – que é quando a floresta é derrubada totalmente, aberta para que outro uso ocorra –, mas 2.203 km2 (38%) foram pelo que, no jargão técnico, é chamado de desmatamento por degradação progressiva. Em bom português, por uma ação contínua de fogo a ponto de levar ao colapso da vegetação.
Essa distinção não é mera tecnicidade. Historicamente, o fogo não desempenhava um papel tão grande na taxa oficial de desmatamento. Pelo contrário, era bem pequena. E isso era esperado, afinal de contas, estamos falando de uma floresta tropical, onde o fogo não tendia a se alastrar muito ao se chocar com a umidade natural da mata. Ele passava, a floresta obviamente sentia isso, um tanto de árvores iria morrer, mas ela ainda tava de pé. Abalada, mas de pé.
(É diferente do corte raso, que derruba tudo e o solo fica exposto. É o “adeus, floresta, olá, gado”. Não à toa, sempre foi o foco principal da fiscalização ambiental conter o avanço do corte raso.)
Claro que se ocorressem outras queimadas no mesmo lugar, a floresta eventualmente iria, sim, desaparecer. Daí essa análise da degradação progressiva. Mas ela nunca teve uma representatividade tão grande na taxa final de desmatamento como ocorreu no ano passado. As mudanças climáticas vêm mudando esse quadro.
Ao apresentar os dados, o coordenador do programa de monitoramento do Inpe, Claudio Almeida, mostrou que em 2022, por exemplo, a tal degradação progressiva representou apenas 7% da taxa total de desmatamento. Subiu para 20% em 2023 e 27% em 2024, anos em que as queimadas se tornaram mais intensas, chegando a 38% agora.
“Se olharmos o número de 3.593 km2, se não tivesse esse índice de incêndio, teríamos o menor índice de corte raso da história, desde 1988 [quando começou o monitoramento]. Entretanto, com o agravamento das mudanças climáticas, com a seca extrema que a Amazônia sofreu por dois anos consecutivos, em 2023 e 2024, tivemos esse índice de queimadas que levou ao colapso de 2.203 km2 em função de incêndios. Então estamos diante de um desafio enorme com esse novo vetor de degradação que são os incêndios”, afirmou o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.
E esse novo quadro tem tudo a ver com a COP30 por dois motivos. Por um lado, o Brasil vai receber a cúpula com a lição de casa muito bem-feita. A dez dias do início da conferência, estamos mostrando para o mundo que estamos combatendo de modo consistente nossa principal fonte de emissão de gases de efeito estufa. Ou seja, mostrando que o Brasil está diminuindo sua contribuição com o aquecimento global.
(Se vai perder tudo isso depois caso venha a explorar todo o petróleo que está na Margem Equatorial é outra conversa, mas isso não está nos cálculos agora.)
Agora, ao detalhar os dados e a importância que as queimadas tiveram para essa taxa, o governo mostra também que se globalmente os países não atuarem para conter o aumento da temperatura do planeta e as mudanças climáticas que ocorrem em decorrência disso, a Amazônia fica em maus lençóis. “Se não fosse o quadro climático tão grave, com incêndios tão fora da série histórica como foi o ano passado, teríamos o menor índice da história. Teria sido espetacular…”, afirmou Capobianco.
Entendo o lamento. Seria espetacular para o governo Lula chegar com essa carta na manga para cobrar os demais países a agirem de modo mais ambicioso contra a crise climática. Ele ainda tem um baita resultado a mostrar. Mérito 100% da vigorosa equipe ambiental, capitaneada pela ministra Marina Silva, que assumiu o compromisso de proteger a Amazônia e todos os biomas do Brasil e está entregando resultados.
Não se pode dizer o mesmo de outros ministérios, em especial de Minas e Energia, quando o assunto é combater a crise climática.
Mas ela sabe bem que é preciso mais. Diversas pesquisas vêm mostrando que a Amazônia tem sido cada vez mais fragilizada pelas mudanças climáticas. Há regiões que estão aquecendo muito mais que o resto do planeta e isso torna o terreno muito mais suscetível ao fogo. Com muito calor, a umidade tende a diminuir. Não é só a falta de chuva, mas a perda da umidade.
É legítimo, portanto, imaginar o que pode acontecer se a proporção mudar, e a perda da floresta começar a ser maior pela ação do fogo. Que é muito mais difícil de controlar que o correntão.
E por isso, mesmo com o avanço da Petrobras, Marina insiste: “Precisamos enfrentar a mudança do clima em duas direções, saindo da dependência do uso de combustíveis fósseis e zerando o desmatamento. É preciso [nas COPs] fazer os mapas dos caminhos com indicadores de esforços para alcançar esses resultados”.
 
			 
										 
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